São Paulo, quinta-feira, 7 de novembro de 1996
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Governo troca verba por silêncio de Jatene

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal irá liberar este ano R$ 317 milhões do R$ 1,6 bilhão que o ex-ministro Adib Jatene (Saúde) reivindicava para permanecer no cargo e que considerava fundamental para que o sistema de saúde não entrasse em colapso.
Segundo a Folha apurou, os R$ 317 milhões foram liberados sob a condição de que Jatene não saísse do governo atacando a equipe econômica. A negociação para que Jatene fosse ameno nas críticas ao governo foi conduzida por ministro Clóvis Carvalho (Casa Civil).
Jatene disse que foi informado da decisão do governo na terça-feira à noite, quando comunicou ao presidente Fernando Henrique Cardoso que estava deixando o cargo.
O ex-ministro afirmou que já havia decidido pedir demissão antes de ser informado de que a verba seria liberada. "Mas, mesmo que a verba tivesse sido aoferecida antes, não sei se ficaria. Minha permanência tinha chegado ao limite", disse.
Segundo Jatene, o ministro Pedro Malan (Fazenda), e o secretário do Tesouro, Murilo Portugal, tentaram convencê-lo de que o governo não tinha como liberar o R$ 1,6 bilhão que ele pleiteava.
"O Murilo Portugal me disse que a arrecadação do governo havia sido menor do que eles esperavam e que, por isso, não teriam como liberar R$ 1,6 bilhão. Essa é a opinião dele, mas eu acho que o governo poderia ter dividido comigo o prejuízo pela não-aprovação da CPMF em 96," disse Jatene.
Sobre os desentendimentos com a Fazenda, o ex-ministro afirmou: "Estou numa idade em que a mágoa é consequência de mal-entendidos. Não estou magoado com o Malan. Eu não me magôo mais."
Mas Jatene reclamou da falta de compreensão do governo com as necessidades de seu ministério.
"Tem gente do próprio governo que acha que eu gasto muito e que boa parte do dinheiro vai para o ralo. Mas há despesas na saúde que são incompressíveis. Não posso deixar de internar doentes porque o governo precisa cortar o Orçamento. Teve muita gente que só criticou e não colocou uma pedrinha sequer para ajudar."
O ministro interino da Saúde, José Carlos Seixas, disse que é da "mesma escola" de Jatene e que vai continuar lutando pela recomposição do Orçamento.

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