São Paulo, quinta-feira, 7 de novembro de 1996
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O lucrinho do BB e outros mistérios

ALOYSIO BIONDI

Primeiro, a equipe FHC/BNDES inventou um prejuízo de R$ 6 bilhões, R$ 7 bilhões ou R$ 8 bilhões para o Banco do Brasil. Agora, vem anunciando lucros ridículos para o BB, na faixa de R$ 50 a R$ 80 milhões por mês, neste segundo semestre.
Mistério intrigante. As contas não batem. Para falsear as perdas do BB, o governo lançou, no seu balanço de junho, nada menos de R$ 6 bilhões a R$ 8 bilhões em empréstimos cujo pagamento "disse" considerar "duvidoso". Isso, no primeiro semestre.
De julho a outubro, segundo declarações de Edson Soares Ferreira, diretor do BB, já foram renegociados R$ 2,7 bilhões desses créditos, com recebimento de R$ 1,8 bilhão em dinheiro (ou bens de venda imediata).
Pergunta: por que os lucros não cresceram proporcionalmente a esses resultados?
A Comissão de Finanças da Câmara dos Deputados, ou a Comissão de Valores Mobiliários, certamente procurarão esclarecimentos, -antes que, de uma hora para outra, o BB apresente grandes lucros nos balanços- com ganhos fabulosos a grupos bem informados que tenham comprado suas ações.
Videoteipe - há "mistérios" também na Caixa Econômica Federal. O Tribunal de Contas da União acaba de condenar ex-administradores da CEF que, há alguns anos, fizeram a Caixa comprar, ou engolir, contratos de empréstimos para a compra de imóveis concedidos por bancos privados ou construtoras.
Contratos "podres", de difícil recebimento, e que por isso mesmo trouxeram prejuízos à CEF. Exatamente a mesma coisa que a CEF está fazendo neste momento, a mando da equipe FHC/BNDES, com a compra de carteiras de empréstimos imobiliários "podres" dos bancos.
Na praia
Milhões de famílias de classe média e povão na fila para a compra de moradia, à espera de financiamento. Mas o "pacote habitacional" anunciado pelo governo manda a Caixa desviar dinheiro para empréstimos a quem já é dono de um imóvel -isto é, para a compra de casas de campo e de praia.
Na surdina
O "pacote habitacional" permite também que empréstimos antigos, feitos pelos bancos dentro do sistema de carteira hipotecária, sejam transferidos para o Sistema Financeiro da Habitação.
Mais desvio, para os bancos, de recursos que a Caixa poderia aplicar no financiamento a novos compradores de imóveis. Por quê? Ninguém se deu conta até agora de que, com a transferência, a CEF deverá entregar, aos bancos, o valor dos empréstimos antigos, usando para isso dinheiro do FGTS.
Ah, os dólares
O governo brasileiro concedeu vantagens incríveis às indústrias de automóveis. Entre elas, redução do imposto (tarifa) para importar autopeças e componentes (tarifa de míseros 2%), -ou mesmo para importar carros das matrizes. Torra de dólares. Como compensação, as fábricas assumiram o compromisso de realizar exportações, com metas fixadas. Em outubro, elas exportaram 17% menos do que em setembro. Haverá cobrança?
Privadoação
O grupo privado que vai construir a Ferronorte, com 400 quilômetros de extensão, gastará R$ 900 milhões. Para comparação: o governo FHC "cobrou" somente um terço desse valor, ou pífios R$ 300 milhões, na "privatização" do trecho leste da Rede Ferroviária Federal, com uma extensão cinco vezes maior: São 2.000 quilômetros, com número três a quatro vezes maior de locomotivas e vagões -e alto potencial de carga, em seus dois trechos, um ramal da Bahia ao Rio, e uma ramificação de Belo Horizonte ao Rio. Extensão cinco vezes maior, preço três vezes menor, isto é, 15 vezes mais barato. A política de privatização no Brasil é um assalto ao patrimônio coletivo (de todos nós).
Quem paga?
Diagnóstico da economista Lídia Goldstein, assessora da presidência do BNDES: o processo de reestruturação da indústria brasileira é "doloroso, altamente concentrador e desnacionalizador". Foi "realizado aos trancos e barrancos" e "poderia ser mais organizado" ("Gazeta Mercantil," 5/11/96).

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