São Paulo, quinta-feira, 7 de novembro de 1996
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Valeska se move entre fé, amor e loucura

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O visitante que entrar no jardim onírico que a artista plástica mineira Valeska Soares inaugura hoje na galeria Camargo Vilaça deve sentir uma desconcertante sensação de estranhamento e familiaridade em relação às obras anteriores da artista, há quatro anos e meio radicada em Nova York.
Dividida em duas partes, a instalação "Strange Love" traz de um lado uma fonte em cera de abelha, de onde emerge perfume em vez de água.
Já presente na mostra realizada na mesma Camargo Vilaça em 1994, o aroma deverá impregnar o ambiente durante a mostra. O aroma faz parte de uma preocupação maior da artista, que pretende trabalhar com todos os campos da percepção. E não contar apenas com a visão contemplativa do visitante.
"O que me interessa na verdade é o deslocamento entre extremos. É o sujeito entre fé e iluminismo, entre racionalidade e loucura. Estou interessada em sistemas de pensamento que fujam do racional. Na fé, no amor e na loucura, o sujeito perde o controle", disse.
"É como o prazer, que por si só não interessa, mas que ganha relevância em sua passagem para outros estados", complementa.
Ali também estão as flores, não vermelhas como as centenas de rosas que espalhou pelo chão da Bienal em 1994, mas em chumbo, como a simbolizar as impossibilidades de um relacionamento.
"Os vidros espalhados pela sala simulam um campo minado, em que as pessoas têm que se locomover entre veneno e vinho", disse.
Infelizmente, "Strange Love" chega antes do catálogo que a artista está produzindo com mais de 40 reproduções de trabalhos seus e textos do também artista plástico Adriano Pedrosa, em que discute questões como o distanciamento do crítico e o incesto como relação possível entre esses dois lados da arte. Impresso no México, publicado em português e realizado por uma equipe que reúne americanos e mexicanos, o catálogo sai apenas no final do mês.

Mostra: Instalação "Strange Love"
Artista: Valeska Soares
Onde: galeria Camargo Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, Vila Madalena, tel. 011/210-7390)
Vernissage: hoje, às 20h
Quando: até 30 de novembro

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