São Paulo, quinta-feira, 7 de novembro de 1996
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Ruy Ohtake traz aço para dentro da casa

PAULO VIEIRA
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA

Aço, concreto e vidro. Esses três materiais são a base do trabalho do arquiteto Ruy Ohtake, que é centro, a partir de hoje, de uma exposição na galeria Nara Roesler.
A mostra evidencia seu lado de designer de móveis. "Nos meus projetos de arquitetura, acabava desenhando alguns móveis fixos de alvenaria ou concreto. Agora passei também para as peças móveis."
Móveis em parte. Há estantes de concreto e prateleiras para livros -em losango- que, para mudarem de posição, só sendo destruídas. Mas há também peças mais suaves, que exploram a aridez dos materiais eleitos com resultados satisfatórios.
Ohtake criou, por exemplo, uma namoradeira com uma chapa de aço pintada. Resistiu ao ímpeto de abrandá-la com uma almofada, mas a pintou com tinta em cores cítricas.
Também criou mesas e poltronas estruturadas a partir das chapas, como uma a que deu o nome de "Origami" (R$ 1750), com poucas e eficientes dobras servindo-lhes como apoio.
"Além de querer um bom resultado plástico, procurei ir além, explorar a potencialidade do material. Explorei formas nesses materiais que a madeira, por exemplo, não permitiria."
Outro exemplo dessa "exploração" está em uma mesa de escrivaninha. Ela é montada com apenas dois elementos -uma chapa de aço e um tampo de vidro. Ohtake aproveitou a curva da chapa obtida em calandragem e fixou nela, apenas com cola de silicone, o tampo oval, simétrico. "A curva da chapa não seria obtida nunca em madeira ou concreto."
Como em muitos projetos de arquitetura, Ohtake usa curvas e ângulos retos quase em proporção. Uma poltrona de base triangular contrapõe-se a uma mesa redonda, de vidro transparente, preenchida completamente por grãos de lentilha, feijão preto e branco.
É difícil imaginar essas peças em ambientes clássicos, fazendo contraponto a móveis pesados de madeira.
Ohtake conta que fez essa produção já pensando em casas de clientes. Grande parte das peças expostas decora o flat onde mora -o prédio é projetado por Ohtake e por isso ele tem a posse do duplex de cobertura. Lá, as peças encontram espaço suficiente para se adequarem.
Os móveis tem tiragem limitada em 50 cópias e são todos assinados.
Ohtake, que tem em seu currículo diversas obras públicas, como o Parque Ecológico do Tietê e o de Indaiatuba (interior de SP), está marcando a paisagem da cidade com mais um projeto de grande impacto. É o hotel Renascença, com 30 andares, que tem previsão de inauguração para janeiro e fica nas esquinas da alameda Santos com rua Haddock Lobo (Jardins).
"O prédio irá dialogar em dois níveis. Com a cidade, por meio de faixas horizontais e paralelas de alumínio vermelho; e com a rua, nos andares mais baixos, por meio de curvas e terraços que tocam as copas das árvores das ruas do entorno."
O arquiteto anda insatisfeito com o planejamento arquitetônico da cidade. "Acho que falta mais estética nos projetos", diz. "O mercado imobiliário insiste em edifícios neoclássicos. São projetos muito conservadores. Pode-se dizer que são soluções de 150 anos atrás."
Quer também ver a avenida Paulista como o "bulevar da cidade". Fecharia-a para pedestres aos sábados e domingos. "É um erro pensá-la como um corredor de ônibus. Pensa-se a cidade apenas do ponto de vista da eficiência -velocidade do transporte, rios para condução de esgotos. O pior é que nem assim ela funciona."

Exposição: Ruy Ohtake
Onde: Galeria Nara Roesler (av. Europa, 655, Jd. Europa, tel. 011/853-2123) Quando: seg a sex, das 10h às 20h; sáb, das 10h às 14h. A partir de amanhã, 21h. Até 30 de novembro

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