São Paulo, quinta-feira, 7 de novembro de 1996
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JATENE E A ILUSÃO

Jatene, o sobrenome do cirurgião Adib Jatene, acabou se transformando de substantivo próprio em adjetivo. Já não designava apenas uma pessoa, mas uma notável qualificação, a ponto de até Luiz Inácio Lula da Silva, o líder histórico do PT, ter sugerido que Itamar Franco, logo que assumiu a Presidência, compusesse o seu ministério com "12 Jatenes".
O presidente Fernando Henrique Cardoso pode não ter escolhido "12 Jatenes", mas para a pasta da Saúde indicou o único Jatene de fato existente. A saída do ministro, após menos de dois anos de gestão, demonstra, acima de tudo, quão ilusória pode ser a busca de um salvador.
Que Jatene é um brilhante cirurgião, não há dúvida alguma. Mas não é uma qualidade suficiente para transformá-lo também em um homem capaz de, magicamente, resolver todos os complexos problemas que envolvem um setor, como a saúde pública, devastado por anos e anos de descaso, mau uso de recursos e tantas outras impropriedades.
Não se trata de discutir, pontualmente, méritos e deméritos de Jatene como ministro. Até porque a sua gestão foi marcada menos por iniciativas na área de Saúde propriamente dita e mais pela luta incessante em favor da introdução da CPMF (o imposto do cheque, com recursos exclusivamente para a saúde).
Demite-se, ironicamente, dois meses antes de a contribuição entrar em vigor, sem portanto utilizar os recursos que tanto exigiu. Apenas o seu sucessor vai poder demonstrar se a CPMF era, ou não, de fato necessária e se resolverá os problemas do setor.
Problemas que já eram formidáveis, antes do período Jatene, e assim se mantêm, como mostra uma sucessão de episódios, das mortes pela hemodiálise em Caruaru (PE) às dos bebês de Roraima.
Não é o caso, claro, de culpar o ministro por tamanhas aberrações, mas de enfatizar o ponto central: ilude-se quem acredita que a indicação de um personagem ilustre é capaz de fornecer soluções mágicas.

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