São Paulo, quinta-feira, 7 de novembro de 1996
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ECONOMIA CONVALESCENTE

O primeiro efeito do déficit comercial de U$ 655 milhões registrado em setembro foi reacender a discussão sobre a taxa de câmbio. Agora, em um momento sobre o qual o tom apreensivo do último relatório da CNI (Confederação Nacional da Indústria) bem serve de ilustração, surge o temor de que o governo volte a adotar políticas recessivas, apesar das negativas oficiais. Fica no ar, entretanto, o receio de ver abortada a retomada econômica que o país ensaia neste final de ano.
Frear a produção e o consumo serviria para reduzir indiretamente as importações. Mas esse tipo de política só atenua o problema no curto prazo, sem atacar suas causas. Se não for alterada a relação entre os custos de produção no Brasil e no exterior, a balança comercial tenderá ao déficit sempre que se esboce alguma retomada do crescimento.
Um novo arrocho no crédito teria agora efeitos muito mais destrutivos que os produzidos no primeiro semestre de 95. Afinal, tanto empresas como consumidores vinham então de mais de dois anos de bonança e encontravam-se mais capitalizados.
Hoje a sociedade ainda procura recuperar-se da inadimplência e da desaceleração da economia. O desemprego dá apenas os primeiros sinais de arrefecer e continua mais alto que nos últimos dois anos.
A brusca freada do ano passado contribuiu para que um número inusitado de empresas fosse à falência. É difícil prever qual seria o resultado de uma nova recessão agora, já em condições mais delicadas.
Ademais, a eventual manutenção de taxas de juros elevadas agrava o déficit público e promove uma brutal transferência de renda em favor dos possuidores de riqueza financeira. Somente nos oito primeiros meses deste ano, o setor público pagou R$ 30,6 bilhões em juros. Como parâmetro de comparação, note-se que nos últimos dez meses o gasto da Previdência foi de R$ 31,3 bilhões.
Não é aceitável que, de novo, promova-se o equacionamento da situação externa à custa de atrofiar o desenvolvimento econômico do país.

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