São Paulo, quarta-feira, 13 de novembro de 1996
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Brasil afrouxa cerco sobre agrotóxico

JOSÉ ALBERTO GONÇALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

As vendas de agrotóxicos no Brasil dispararam a partir de 93, após o afrouxamento da classificação toxicológica desses produtos pelo Ministério da Saúde.
Dados da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), entidade que reúne os fabricantes de agrotóxicos, indicam que as vendas do setor saltaram de US$ 1 bilhão, em 92, para US$ 1,7 bilhão este ano, com crescimento de 70%.
Entre dezembro de 1991 e janeiro de 92, segundo apurou a Folha, a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, do Ministério da Saúde, iniciou um processo de revisão da classificação toxicológica dos agrotóxicos utilizados no país.
Produtos antes classificados como extremamente tóxico (faixa vermelha) e altamente tóxico (faixa amarela) passaram a medianamente tóxico (faixa azul) e pouco tóxico (verde).
"Isto provocou aumento dos casos de intoxicação no campo", diz o agrônomo Sebastião Pinheiro, do Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Estimativa do próprio Ministério da Saúde indica que 300 mil pessoas são intoxicadas por ano no Brasil por agrotóxicos e esse número pode estar crescendo.
Segundo Pinheiro, o afrouxamento na classificação toxicológica acaba iludindo o agricultor.
"Ele pode comprar com mais facilidade produtos de alta periculosidade, que ganharam faixas mais brandas, e não recebe orientação sobre os riscos que esses venenos oferecem", diz o agrônomo.
Letícia Rodrigues da Silva, advogada do Grupo Interdisciplinar de Saúde e Agricultura do Rio Grande do Sul, calcula que entre 70% e 80% dos agrotóxicos registrados no país passaram das faixas vermelha e amarela (altamente tóxicos) para as azul e verde.
O uso de um produto faixa vermelha pode levar o agricultor à morte, caso não sejam tomados cuidados especiais no manuseio.
"O fato de a reclassificação ter ocorrido durante o governo Collor, após a pressão da indústria, coloca todo o processo sob suspeita ", diz Sebastião Pinheiro.
Cristiano Walter Simon, presidente da Andef, não vê relação entre a reclassificação e o aumento das vendas de agrotóxicos.
"O que ocorreu foi aumento da área plantada e da incidência de pragas", diz ele.

LEIA MAIS sobre agrotóxicos na pág. 6-3

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