São Paulo, quarta-feira, 13 de novembro de 1996
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Juíza acusa Justiça Militar de perseguição

MÁRIO MOREIRA
DA SUCURSAL DO RIO

A juíza Rosali Cunha Machado Lima, da Justiça Militar, está acusando a cúpula do STM (Superior Tribunal Militar) de persegui-la em função de investigações que ela vinha fazendo sobre supostas irregularidades na instituição.
A principal irregularidade seria o desaparecimento de um livro com o registro dos objetos pertencentes a pessoas condenadas pela Lei de Segurança Nacional durante o regime militar, de 1964 a 1985.
A juíza afirma que, somente numa agência do Banco do Brasil no centro do Rio, estavam depositados US$ 113 mil, além de jóias e valores pequenos em outras moedas estrangeiras.
Ela diz ter feito essa descoberta a partir de uma sindicância que decidiu realizar em sua auditoria para apurar os valores pertencentes aos presos políticos.
Foi aí que, segundo ela, verificou o suposto desaparecimento do livro com registros dessas quantias e objetos.
"O livro sumiu porque os valores que estavam ali foram desviados", afirmou a juíza.
Transferência
Rosali Cunha Machado Lima, da 4ª Auditoria da 1ª CJM (Circunscrição Judiciária Militar), no Rio, teve sua transferência para a 2ª Auditoria da 3ª CJM, em Bagé (RS), determinada em abril passado, ao final de um processo administrativo aberto por ordem do presidente do STM, almirante Luiz Leal Ferreira.
"É isso que eles querem. Não interessa a eles gente honesta na Justiça Militar", afirmou, referindo-se à direção do STM.
Segundo a juíza, o presidente do STM teria dito que ela o tratara com "menoscabo" (menosprezo), por ter desligado o telefone de forma abrupta durante uma conversa entre ambos, e seria "autoritária" em seus ofícios.
No final de outubro, a juíza obteve uma liminar na 26ª Vara Federal do Rio que suspendeu a punição imposta pelo STM. Assim, até o julgamento do mérito, ela não terá que se transferir para Bagé.
Mãe
"Mas eu não iria de qualquer jeito, porque estou perto de me aposentar e, além disso, tenho uma mãe com mais de 80 anos para cuidar." A juíza disse que é considerada "excessivamente independente" pelo tribunal. "Praticamente todos os outros juízes são sensíveis a pedidos dos militares."

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