São Paulo, quarta-feira, 13 de novembro de 1996
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Déficit não é problema, afirma analista

CELSO PINTO
DO CONSELHO EDITORIAL

O Brasil pode e deve ter déficits na balança comercial bem maiores do que os atuais. Não é por aí que o Plano Real pode ser ameaçado, e sim se faltar autoconfiança do governo e dos empresários em relação ao futuro.
O otimismo, desta vez, não vem de Brasília e sim de David Malpass, diretor-gerente sênior do banco de investimentos americano Bear Stearns, responsável pela análise de risco de países.
Malpass foi subsecretário assistente do Tesouro e do Departamento de Estado dos EUA.
Sua visão sobre o Brasil é fortemente otimista, mesmo em relação a questões delicadas.
O mercado financeiro, depois da crise do México, passou a considerar que países latino-americanos prudentes não deveriam ter déficit nas contas externas superiores a 3% do PIB.
Malpass, ao contrário, considera que o Brasil poderia ter um déficit em conta corrente de até 5% do PIB. Desde que ele fosse financiado pelo setor privado, a economia estivesse crescendo e a política geral estivesse caminhando na direção correta.
Déficits, argumenta, são uma forma desejável de absorver poupança externa. São também inevitáveis, quando os investimentos externos crescem e exigem mais importações.
Como regra, afirma ele, os déficits comerciais devem superar o volume de investimentos diretos externos.
No Brasil, que deverá receber cerca de US$ 9 bilhões este ano em investimentos diretos, seria de esperar um déficit comercial bem maior do que os US$ 3,5 bilhões a US$ 4 bilhões estimados por ele.
A razão, certamente, é que boa parte dos investimentos veio não para dar início a novas fábricas, mas para comprar fábricas já existentes.
Falta ao Brasil, sugere Malpass, autoconfiança do governo e dos empresários de que é possível crescer 5% ou mais no próximo ano, baixando os juros e sem colocar em risco a inflação.
Temores do mercado
O mercado financeiro em peso, ao contrário de Malpass, está preocupado com os déficits externos e aposta que o governo vai segurar o crescimento em 97 abaixo dos 5% que está prometendo, para não comprometer ainda mais a balança comercial.
Até mesmo na área fiscal Malpass é muito mais tolerante que a média do mercado.
"O Brasil não precisa equilibrar as contas fiscais, mas apresentar progressos contínuos", recomenda, endossando a posição de Brasília. O que se deve evitar, diz, é aumento de impostos e de tarifas de importação.
Um ponto, a seu ver, poderá mexer na confiança dos investidores externos: se o presidente Fernando Henrique Cardoso não conseguir o direito à reeleição e, com isso, perder sua força (se transformar num "lame duck"). Mais uma vez, exatamente como argumenta Brasília.
Nova alta nos juros
Se o Brasil piorar o déficit fiscal e não melhorar a eficiência, gradualmente vai minar a confiança dos investidores, admite o diretor do Bear Stearns.
Mesmo assim, poderia contornar uma crise mais séria com novo aumento nos juros.

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