São Paulo, quarta-feira, 13 de novembro de 1996
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Olodum traz sua 'Roma Negra' a SP

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Recém-chegado de uma turnê pelos EUA, o Olodum traz seus tambores a São Paulo. Com shows no Palace, hoje e amanhã, a banda baiana festeja o lançamento nacional do CD "Roma Negra".
"Este é o disco do amadurecimento musical do Olodum", diz o diretor de cultura João Jorge, que coordenou as gravações, realizadas em Salvador e São Paulo.
Animado com o resultado do novo álbum, Jorge acredita que a banda conseguiu finalmente superar um impasse musical esboçado em discos anteriores.
"Havia uma certa timidez em fazer coisas novas, talvez por medo de não atender ao público que se formou em torno da combinação de percussão e voz", admite.
Na opinião do diretor, manter a mesma fórmula sonora dos primeiros discos do Olodum, abstraindo a concorrência das bandas de axé music e pagode, seria uma forma de "suicídio musical".
"As pessoas que pensam assim estão, na verdade, pedindo que o Olodum morra", diz, justificando a maior variedade de ritmos e o desenvolvimento harmônico do CD.
"Não podemos viver no passado. A coerência está em manter nossa trajetória política e cultural, apreendendo ao mesmo tempo novos anseios musicais", diz.
Uma das faixas que melhor demonstram a intenção da banda em alargar seus horizontes sonoros é a versão instrumental de "Smile" -a popular canção do ator e cineasta Charles Chaplin.
"Nossa idéia inicial era gravar o 'Bolero' de Ravel. Eu considero o Olodum uma orquestra de percussão", afirma João Jorge.
"A visão alegre de Charles Chaplin em relação à criança e ao trabalhador tem muito a ver com a linguagem e a ação cultural do Olodum", justifica.
A participação da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal de São Paulo, nessa faixa, estimulou a banda a transportar a experiência do estúdio para os palcos.
"Temos um projeto de unir o Olodum com uma sinfônica, em Salvador. Seria o casamento da música de rua com a música clássica", diz o diretor da banda.
Outra experiência inédita em discos do Olodum foi a de gravar uma canção conhecida: "Reconvexo", de Caetano. A escolha, afirma Jorge, não teria nada a ver com a lucrativa onda de regravações que se instalou na MPB.
"Além de falar do Olodum, essa bela canção de Caetano foi uma das fontes de inspiração para o tema de nosso próximo carnaval, que será 'Roma Negra'."
Apesar de buscar novidades, a banda não descuidou de sua maior especialidade musical. A faixa escolhida como "single" do disco, já executada em algumas rádios, é "Bora Bora", um típico samba-reggae à moda do Olodum.
Após a maratona carnavalesca de 97, revela João Jorge, a banda pretende concretizar um sonho antigo: sair em turnê por vários países do continente africano. É o que se pode chamar de volta às raízes.

Show: Olodum
Onde: Palace (av. dos Jamaris, 213, tel. 531-4900, Moema, zona sul)
Quando: hoje e quinta, às 21h
Quanto: R$ 20 (pista) e R$ 30 (camarote)

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