São Paulo, quarta-feira, 13 de novembro de 1996
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Canadá vai liderar intervenção no Zaire

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O Canadá concordou em liderar uma força internacional de intervenção no Zaire. A confirmação foi dada ontem em Roma pelo secretário-geral da ONU, o egípcio Boutros Boutros-Ghali.
"Espero que nos próximos dias possamos ter esta força multinacional e obter um mandado do Conselho de Segurança", disse ele.
Boutros-Ghali está na capital italiana, onde participa hoje da abertura da conferência das Nações Unidas sobre alimentação e agricultura (leia nesta página).
O contingente estimado deve ser de 10 mil a 12 mil pessoas. "Estamos em contato com Canadá, Itália, França e Espanha, e esperamos também ter apoio logístico dos Estados Unidos", afirmou.
O governo americano tem resistido a endossar uma missão da ONU no Zaire, por temer um fracasso semelhante ao ocorrido com sua operação militar na Somália.
O secretário-geral da ONU disse também ter contatado o presidente da África do Sul, Nelson Mandela, que se comprometeu a colaborar com tropas.
A missão internacional terá o objetivo de criar condições de segurança para a distribuição de ajuda humanitária no Zaire.
O chanceler da Espanha, Abel Matutes, disse ontem que esperava que a aprovação para a criação da força internacional para intervenção no Zaire saísse em 48 horas.
Organizações humanitárias disseram que sete caminhões com alimentos e remédios enviados anteontem para a região de Goma foram interceptados por rebeldes tutsis, que lutam contra o governo do Zaire.
Os caminhões foram levados para um estádio de futebol de Goma. Uma porta-voz das Nações Unidas disse que um acordo foi acertado para que a distribuição dos suprimentos comece hoje.
Alguns remédios enviados pelo grupo Médicos Sem Fronteiras chegaram ontem a um hospital de Goma.
Mais de 1 milhão de refugiados da etnia rival hutu, a maioria originários de Burundi e Ruanda, continuam sem receber comida e água potável.
Os tutsis não permitem a passagem dos comboios de ajuda humanitária, e as milícias hutus, que controlam os campos de refugiados, impedem o deslocamento da população para áreas onde teriam acesso a ajuda.
As milícias hutus deixaram Ruanda depois de derrotadas na guerra civil contra os tutsis. Se seus membros retornarem ao país, correm o risco de serem presos e condenados à morte.
Os hutus de Ruanda são acusados pelo genocídio de mais de 1 milhão de tutsis em 1994.
O governo do Zaire quer que os refugiados deixem o país e tentem buscar ajuda em suas nações de origem.
O ministro da Informação do Zaire, Boguo Makele, disse que o trânsito de ajuda humanitária por áreas controladas pelos rebeldes será considerado uma violação da soberania do país.

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