São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 1996
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O novo desenho da saúde

LUÍS NASSIF

Há dois desafios relevantes esperando a nova equipe que irá dirigir o Ministério da Saúde -e ambos correspondem a duas fraquezas da gestão Adib Jatene.
O primeiro é acelerar a municipalização do atendimento ambulatorial-hospitalar.
Jatene acabou envolvido pela burocracia brasiliense da saúde -que não tem interesse em abrir mão de espaço. Perdeu-se em reuniões intermináveis, em um democratismo pouco objetivo que atrasou para além da conta a municipalização.
Deveria ter procedido como o antigo presidente do Inamps, deputado Carlos Mosconi (PSDB-MG), que primeiro extinguiu o órgão e depois chamou a burocracia para conversar.
O segundo desafio é o de implantar métodos gerenciais no SUS e formas de controle externo sobre suas atividades.
Em que pese a extraordinária importância da estrutura SUS -um exército de soldados da saúde, organizados de norte a sul do país-, falta conferir-lhe métodos gerenciais e sistemas modernos de avaliação.
Hoje em dia, não existem indicadores, programas gerenciais ou processos de qualidade. E a corporação é resistente a controles de qualidade e a prestar contas para o público externo. Defende-se atrás do discurso de que, se os recursos vierem na frente, a gerência virá atrás. O que virá será o desperdício.
Essa resistência, provavelmente, se reduzirá substancialmente quando houver contatos com os instrumentos proporcionados pelos programas de qualidade.
Juntando sua vocação social com métodos de qualidade, vai-se ter uma revolução no setor.
Para tanto, o perfil ideal da nova equipe da Saúde seria um ministro político (no sentido amplo), que fosse capaz de levar a ferro e fogo o desafio da municipalização.
E um diretor técnico de peso, que possa trazer esse arejamento gerencial para a área.
Jatene Homem que ajudou a criar o SUS e a fechar o Inamps, o deputado Mosconi tem uma estratégia de guerra para a saúde:
Se os recursos são insuficientes para financiar toda a rede conveniada do SUS, o ideal seria jogar sua totalidade nos hospitais públicos e filantrópicos, incluindo os 40% que se destinam aos hospitais privados.
A rede privada ficaria cuidando de pacientes privados, dos planos de saúde e convênios médicos, dos procedimentos de maior complexidade e dos locais onde não existam hospitais públicos ou filantrópicos.
Essa estratégia só seria acertada se viesse acompanhada de um programa capaz de conferir mais eficiência ao serviço dos hospitais públicos.
A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo -fundação privada sem fins lucrativos- atende o mesmo número de doentes que o Hospital das Clínicas, gastando dois terços a menos.
Calote A Santa Casa, aliás, não recebe do SUS desde setembro. Para pagar sua folha, precisou tomar dinheiro nos bancos e atrasar o pagamento dos encargos.
Quando receber, os atrasados virão sem correção. O pagamento ao banco será com juros e à Previdência, com multa e juros de mora.
Enquanto persistir essa situação, sugere-se que o governo suspenda a publicidade sobre dinheiro novo na saúde.

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