São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 1996
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King e Farrakhan: do sonho ao pesadelo

CINÍLIA T. GISONDI OMAKI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Martin Luther King e Louis Farrakhan: dois nomes ligados aos negros e suas lutas nos Estados Unidos.
O intervalo de tempo que separa os dois é pequeno, mas seus ideais e objetivos demonstram a condição de um povo que está no país há séculos, mas que ainda não faz parte dele.
Com a Guerra Civil (1861-1865) norte-americana houve o fim da escravidão, mas leis segregacionistas foram aprovadas para preservar a "supremacia branca" dividindo brancos e negros nas escolas, no trabalho e também nas ruas.
Os anos de injustiças e racismo culminaram na década de 50, no boicote aos transportes coletivos de Montgomery (Alabama), organizado por Luther King, iniciando o movimento anti-segregacionista e a luta pelos direitos civis dos negros.
Apresentada pelo presidente Kennedy, a lei dos direitos civis foi aprovada em 1963, acelerando a integração social e garantindo o direito ao voto, igualdade de oportunidades para obter empregos, não-discriminação em lugares públicos e em transportes coletivos.
Nesse mesmo ano, Martin Luther King liderou a Primeira Marcha sobre Washington, que mobilizou a consciência nacional por meio da não-violência.
Passados 30 anos, os negros continuam mais pobres e perseguidos do que os brancos. A segunda marcha, organizada em 93, não possuía lideranças que canalizassem essa insatisfação.
Mas ela tem se manifestado, quase sempre de forma violenta, como nos tumultos de 91 em Washington, nos de Los Angeles e Nova York em 92, e no cotidiano dos crimes e agressões nas ruas. Tais fatos demonstram a desagregação dos negros nos EUA.
Esse quadro é ideal para a adesão de idéias radicais como as defendidas por Farrakhan, que pretende ser um novo grande líder negro, organizando em 95 a Marcha de 1 Milhão de Homens, na capital norte-americana.
Líder da Nação do Islã, Farrakhan rejeita a mensagem de não-violência e de integração de Luther King, unindo ao radicalismo reacionário e racista o fanatismo religioso. Só aceita os direitos da minoria negra por meio do confronto com a maioria branca. Pretende construir uma nação negra separada dos brancos.
Suas propostas podem dividir o país, e suas consequências são previsíveis em uma nação onde o potencial de violência e radicalização é alto. Isso dificulta a concretização do sonho de Luther King, de um lugar onde as pessoas "... não seriam mais julgadas pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo do seu caráter".

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