São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 1996
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Soprano brasileira Bidu Sayão entra na era digital

LUIS S. KRAUSZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na era dos pesados álbuns de discos de 78 rpm, a soprano Bidu Sayão foi uma das grandes estrelas líricas da Columbia Records. Ainda na década de 50, gravou LPs antológicos, com árias de óperas famosas, até recentemente disputados por colecionadores.
Agora, trechos desses LPs voltam ao mercado, remasterizados pela Sony (que comprou a Columbia). Para os nostálgicos do vinil, o CD imita o miolo azul-escuro dos discos da década de 50.
À época de Carmem Miranda, Bidu Sayão foi uma brasileira que conquistou merecida fama nos Estados Unidos e, à maneira de sua colega mais popular, sempre manteve os vínculos com sua terra.
A praia do Perequê, no Guarujá, era propriedade sua. Ali veraneava e, até alguns anos atrás, ainda existiam as ruínas de sua mansão, em meio à vegetação luxuriante e à crescente favelização do lugar.
Nascida em 1908 no Rio de Janeiro, ela é herdeira da tradição do canto do século 19. Estudou com o tenor Jean de Reszke em Paris, e na Itália com divas como Gemma Bellincioni e Rosina Storchio, que tinham trabalhado com Verdi e Puccini.
Radicou-se em Manhattan e nas décadas de 30 e 40 foi uma das grandes estrelas do antigo Metropolitan Opera House, além de apresentar recitais concorridos no hoje inexistente Liederkranz Hall.
A crítica da época ressaltava a cristalinidade e a beleza de timbre de sua voz, impecavelmente afinada, assim como a espontaneidade e a sinceridade de seu talento dramático.
Fluente em todos os matizes emocionais, cantava com igual naturalidade em italiano, francês, espanhol e inglês, além de português. Pena que não conhecesse o alemão, certamente pouco apreciado nos EUA nos anos 40.
Seus fãs, no Brasil e no mundo, terão motivos de sobra para alegrar-se com este (re)lançamento. Fazem parte da antologia árias de Gounod, como "Roi de Thulé" e "Jewel Song", do "Fausto"; de Massenet -"Restons ici... Voyons, Manon" e "Adieu notre petite table".
Além desses números operísticos, o disco traz uma série de canções francesas -de Debussy, Dupare, Ravel e Moret- além de melodias populares brasileiras, de Ernani Braga.
Traz, também, a primeira gravação da ária da Bachiana Brasileira nº 5 de Villa-Lobos, realizada em Nova York em 1945, com o conjunto de oito violoncelos liderado por Leonard Rose.
Este lançamento obviamente não tem a qualidade técnica das gravações contemporâneas, mas reproduzir as limitações técnicas da época -sem nenhum chiado- acaba sendo mais interessante do que atingir a perfeição digital.
O CD traz de volta à vida alguns dos mitos da música de nosso século. Ao lado da soprano estão maestros como Villa-Lobos, Erich Leinsdorf e Fausto Cleva.
Quem já conhecia a voz de Sayão vai emocionar-se ao relembrar noitadas da juventude -ou da casa dos avós. Quem não, desfrute deste passeio pela máquina do tempo.

Disco: Bidu Sayão
Lançamento: Sony (série Masterworks Heritage)
Preço: R$ 20, em média

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