São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 1996
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Bienal se desmaterializa antes da hora

CASSIANO ELEK MACHADO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Se você pretende visitar a 23ª Bienal Internacional de São Paulo, corra. Aos poucos, a megaexposição do parque Ibirapuera, que termina no dia 8 de dezembro, desmaterializa.
Em meio a situações previstas e imprevistas, o tema da mostra deste ano, "desmaterialização da obra de arte no final do milênio", vem se concretizando.
Quem não visitou a exposição no começo já perdeu várias atrações.
A obra "La Pyramide", do costa-riquenho Juan Luis Rodríguez, pirâmide de gelo tingida de vermelho e preto, como era previsto, derreteu no primeiro dia de Bienal.
A participação de alguns artistas na Bienal é centrada em performance, genêro em que o essencial é a atuação. A colombiana María Teresa Hincapié e o cingapuriano Matthew Ngui são dois exemplos.
Para Hincapié fazer arte é, antes de mais nada, caminhar. As coisas que ela recolhe nas ruas são meticulosamente montadas e desmontadas. Essa é sua forma de criar. Atendendo a pedidos da Bienal, Hincapié deixou em exposição os objetos que fizeram parte de sua atuação.
O consolo para os que não estavam nas caminhadas da artista colombiana é que a performance foi filmada e é exibida continuamente junto a objetos como jornais, plantas e frutas apodrecidas.
O representante da Cingapura é outro adepto das performances. Na abertura da Bienal, cozinhou para o público na atuação "Você Pode Pedir e Comer...". Quem não viu, não verá. Na exposição restaram apenas os aparatos culinários.
Desmaterialização sutil
Algumas desmaterializações são mais sutis. No começo da Bienal, o chão da instalação do português Arthur Barrio, que mora no Brasil e é um dos representantes do país na ala Universalis, no primeiro andar, era preenchido por camadas de sal grosso.
No segundo andar, as esculturas de porcos selvagens realizadas por Carl Emanuel Wolff, da Alemanha, também desmaterializam aos poucos. O artista, que criou instalação que simula uma agência de turismo, espalhou suas obras na Bienal e em quatro outras localidades de São Paulo. Hoje, estão cheio de rachaduras.
Quem demorar para visitar a exposição pode encontrar apenas os farelos das obras de argila.
Entre as diversas modalidades de desmaterializações se destaca a deterioração de obras que usam elementos orgânicos.
David Wayne Boxer, artista que representa a Jamaica, por exemplo, desmaterializou um conjunto de peixes pretos.
O artista depositou os animais dentro de copos com água. O líquido evaporou, os peixes morreram. Os restos deteriorados continuam em exposição nos copos de vidro.
Um desmaterializador excêntrico é o japonês Yukinori Yanagi. O artista convocou um batalhão de formigas brasileiras para interagir em sua instalação formada por bandeiras de diversos países feitas em areia colorida.
Os insetos nacionais decepcionaram. As bandeiras têm desmaterializado muito mais devagar do que na Bienal de Veneza, exposição em que a obra foi apresentada. Uma equipe de biólogos toma conta do caso.

Exposição: 23ª Bienal Internacional de São Paulo
Quando: terça a domingo, das 9h às 23h. Até 8 de dezembro
Onde: pavilhão Ciccillo Matarazzo (parque Ibirapuera, entrada pelo portão 3) Quanto: de R$ 5 a R$ 30, dependendo do dia e horário de visita. Os ingressos podem ser comprados nas bilheterias ou pelo tel. 0800-111951, que também fornece mais informações sobre a exposição

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