São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 1996
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Um choque na educação

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Resumo recente estudo editado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), de autoria de seu pesquisador econômico Juan Luis Londoño.
O tema é pobreza, desigualdade e desenvolvimento do capital humano na América Latina. Cita dados assustadores.
Um deles: como o ritmo de crescimento das economias latino-americanas é insuficiente para reduzir o número de pobres, "se a presente taxa de crescimento continuar, a cada minuto duas pessoas mais cairão abaixo da linha de pobreza durante a próxima década".
É isso mesmo: dois novos pobres por minuto.
Proposta de Londoño: "Um choque de capital humano". Concretamente: estender a educação básica para todos os jovens nas próximas duas décadas e elevar para nove anos por pessoa a educação média da força de trabalho (no Brasil, não chega a cinco anos/pessoa).
É um choque caro, admite o autor. Os custos diretos representarão um gasto adicional correspondente a 0,5% ou 1% do PIB (Produto Interno Bruto, soma de riquezas produzidas por um país a cada ano), durante os 25 anos seguintes.
"Os jovens e suas famílias também pagarão, pois serão mantidos fora do mercado de trabalho por mais tempo", diz Londoño.
Mas vale a pena, porque o resultado será forte e rápido. "Se a renda adicional gerada por essa educação adicional fosse tributada às taxas atuais, o investimento requerido poderia rapidamente pagar-se por si mesmo", acrescenta o economista.
O ministro Paulo Renato pode até ter ficado satisfeito por ter sido o único ministro elogiado pelo sociólogo francês Alain Touraine, considerado pelo próprio Fernando Henrique como o seu "mestre". Mas, espero, deve estar com a cabeça suficientemente no lugar para admitir que o que se fez até agora não caracteriza exatamente um "choque" educacional como o proposto por Londoño.

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