São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 1996
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Ministro sabia da compra do Banfort, diz general da reserva

Waldstein Kümmel diz que Lucena estimulou negócio

ALEX RIBEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O general da reserva Waldstein Iran Kümmel disse ontem que o ministro Zenildo Lucena (Exército) tinha conhecimento antecipado das negociações sobre a compra de 49% das ações do Banfort (Banco de Fortaleza).
Kümmel foi exonerado anteontem da presidência da Fundação Habitacional do Exército porque supostamente teria fechado a compra da instituição sem autorização do ministro.
Mas, segundo o ex-presidente da fundação, o ministro teria sido informado previamente das negociações em contatos pessoais.
Kümmel diz que, na véspera da concretização da compra, ele compareceu pessoalmente ao gabinete de Lucena, acompanhado do general Romildo Canhim, e recebeu só estímulos do ministro para a conclusão do negócio.
Canhim, ex-ministro da Administração (governo Itamar), era conselheiro da fundação e foi exonerado junto com Kümmel.
Nota
"Afirmo que o senhor ministro do Exército tinha conhecimento antecipado das negociações que poderiam culminar na compra das ações o Banfort", afirma Kümmel, em uma nota à imprensa.
Ele prossegue: "Não só através de contatos pessoais, como, principalmente, na véspera de sua concretização, quando compareci pessoalmente em seu gabinete".
Kümmel forneceu ainda detalhes de uma suposta reunião com o alto comando do Exército em que foi tratado do assunto.
"Por determinação do senhor ministro do Exército, eu e o general Cahim comparecemos a uma reunião do alto comando, realizada em 25 de setembro último, em Salvador (BA), para expormos aos seus membros o assunto Banfort, não havendo por parte de suas excelências qualquer manifestação de oposição", disse.
Kümmel convocou ontem uma entrevista coletiva para falar do assunto, mas acabou apenas lendo uma nota, alegando estar emocionalmente impedido de responder a perguntas.
"Meu estado emocional não é bom porque tive atingida minha honra no ato da exoneração", afirmou ao final da leitura da nota.
Defesa da honra
No pronunciamento, ele disse que até agora procurou se manter em silêncio sobre a compra das ações do Banfort em respeito ao exército, mas decidiu falar em defesa de sua honra.
A fundação comprou o Banfort em agosto, em uma operação que envolveu R$ 39 milhões.
A fundação é uma entidade de direito privado, ligada ao Exército, que financia habitações para militares com recursos da Poupex, a caderneta de poupança de servidores do Exército.
A instituição tem um patrimônio de R$ 750 milhões.
Ao comprar 49% das ações do Banfort, a fundação iria participar da administração da instituição.
Impossibilitado de desfazer a compra, Lucena determinou que a fundação mantenha apenas as ações, sem interferir na administração do Banfort.
A Folha procurou ontem Lucena por meio de sua assessoria de comunicação, mas até as 20h não havia recebido resposta.

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