São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 1996
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Brasil deve adotar posição 'construtiva'

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

O governo brasileiro se dispõe a assumir um papel "mais construtivo" em relação ao drama do Timor Leste, antiga possessão portuguesa na Ásia, invadida pela Indonésia em 1975 e desde então mantida sob ocupação militar.
Será esse o recado básico que o presidente Fernando Henrique Cardoso transmitirá a José Ramos-Horta, um dos líderes da resistência timorense e prêmio Nobel da Paz-1996, junto com o bispo Carlos Belo, também timorense.
FHC e Ramos-Horta se encontram dia 19 em Brasília.
Resta ver se o Nobel da Paz considera satisfatória essa posição, depois de ter criticado reiteradamente o que chama de "excessivo pragmatismo" da diplomacia brasileira em relação ao Timor Leste.
Traduzindo: Ramos-Horta acha que o Brasil evita uma posição mais afirmativa porque mantém bom relacionamento econômico com a Indonésia.
FHC e Ramos-Horta já se encontraram uma vez, em Lisboa, durante a reunião de cúpula da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), em julho.
O timorense comentou, depois, que considerou um avanço o discurso do presidente brasileiro a respeito da questão Timor, por ter feito enfática defesa do direito à autodeterminação dos timorenses.
Mas deixou claro quer mais: quer que FHC use o seu peso pessoal para cravar na agenda internacional o caso do Timor.
Em entrevista à Folha após ganhar o Nobel, Ramos-Horta lembrou que FHC tem facilidade para falar ao telefone com, por exemplo, o presidente norte-americano Bill Clinton. Poderia, acha o líder timorense, aproveitar para sensibilizar Clinton para a questão.
Para a diplomacia brasileira, entretanto, a questão do Timor não é considerada relevante, conforme a Folha apurou.
A posição do governo permanece a mesma que foi exposta em nota explicativa distribuída à mídia quando a questão do Timor surgiu às vésperas da cúpula da CPLP.
Ou seja, o Brasil condenou a invasão indonésia, é co-patrocinador de resoluções criticando violações aos direitos humanos praticadas pelos invasores e defende o diálogo entre Indonésia e Portugal, ainda a "potência administradora" do Timor, no jargão diplomático.
Agora, "o gabinete presidencial foi muito solícito e marcou rapidamente a audiência, na data pretendida pelo dr. Horta", diz Carlos de Aquino Pereira, coordenador do Centro de Estudos Portugueses da PUC de Campinas e que cuida da organização da visita, na parte relativa aos contatos extra-governo.
O Nobel, segundo Aquino Pereira, mudou também a percepção da sociedade em relação ao Timor Leste, até então virtualmente ausente da agenda brasileira.
"Agora, há uma onda de solidariedade muito grande", afirma.
Tão grande que permitiu que se aproveitasse a presença de Ramos-Horta para, no dia 20, ser lançado o movimento "Jornadas do Timor", que "só terminarão com Timor livre", diz Aquino Pereira.

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