São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 1996
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Piloto diz à polícia que jato tinha problema

OTÁVIO CABRAL
DA REPORTAGEM LOCAL

O Fokker-100 da TAM que caiu no último dia 31 no Jabaquara, matando 98 pessoas, apresentava problemas no sistema hidráulico cerca de 20 minutos antes da decolagem.
A afirmação foi feita ontem pelo comandante Armando Luís Barbosa, que fez o último vôo com o avião antes da queda, ao delegado Romeu Tuma Júnior, titular da delegacia Seccional Sul. Barbosa prestou depoimento ontem por mais de quatro horas na delegacia. Perguntado pelo delegado se o avião tinha condições de decolar em São Paulo e prosseguir viagem imediatamente após a escala, Barbosa disse em depoimento: "não, de maneira alguma".
Barbosa pegou o comando do avião às 22h do dia 30, véspera do acidente. Ele vôou até Caxias do Sul (RS) e na manhã seguinte decolou rumo a São Paulo às 5h59. Ele chegou a São Paulo as 8h. às 8h23, o comandante José Antônio Moreno decolou com o mesmo avião e caiu segundo depois.
Segundo Tuma Júnior, Barbosa afirmou que durante o vôo, "observou anormalidade no nível de fluido do sistema hidráulico".
Essa anormalidade, de acordo com o piloto, teria feito o avião voar numa altitude abaixo da normal. Barbosa disse em seu depoimento que anotou os problemas no relatório de bordo. Uma cópia do relatório foi entregue ao departamento de manutenção da TAM. A outra ficou na cabine do avião.
O delegado teve acesso a uma das cópias e confirmou que o problema no sistema hidráulico foi realmente relatado.
Dois sistemas
O piloto explicou no depoimento que o avião tem dois sistemas hidráulicos interligados. O PT-MRK teve problema no sistema de número dois.
As funções emergenciais do avião estão ligadas aos dois sistemas. A aeronave tem condições de voar com apenas um dos sistemas em funcionamento, mas ele não teria condições de decolar com esse problema.
"Poder voar é uma coisa, decolar é outra. Qualquer anormalidade do sistema hidráulico pode comprometer a decolagem", disse Barbosa ao delegado.
O piloto não soube informar se o avião passou por manutenção no aeroporto de Congonhas antes de decolar. "Ele disse que entregou o relatório e foi para a casa", afirmou Tuma Júnior.
Ainda segundo o delegado, Barbosa afirmou que não decolaria de São Paulo com o avião no mesmo estado em que entregou.
"Se tivesse que prosseguir o vôo, não o faria se a aeronave não fosse verificada e se o sistema hidráulico não estivesse dentro dos padrões do fabricante." Na saída do depoimento, o comandante negou que os problemas com o avião fossem graves.
"Os problemas apontados no meu relatório eram irrelevantes e rotineiros e não concorreram com o acidente", disse Barbosa.
Em entrevista à Folha no último dia 9, o piloto havia dito que não tinha anotado nenhum problema no livro de bordo após a aterrissagem em São Paulo.
Tuma Júnior quer saber agora se o problema hidráulico foi reparado nos cerca de 20 minutos que o avião esteve no solo.
Para isso, ele ouviu ontem à tarde o chefe de manutenção da TAM, engenheiro Ruy Amparo. O depoimento começou às 17h e não havia terminado até as 19h30.
"Temos que analisar se este problema hidráulico tem relação com o acidente. Esse depoimento foi o mais importante para a investigação até agora" afirmou o delegado.

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