São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 1996
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Turista tapuia "magoou" com vídeo da Disney

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Assim que foi veiculada na mídia a notícia de que a direção da Disneyworld está distribuindo às agências de viagem um vídeo de orientação aos turistas tapuias, começou a chover aqui em casa e-mail e fax de leitor indignado.
Dois foram endereçados à coluna Barbara Responde. O primeiro vem de um leitor que não quer ser identificado: "No vídeo da Disneyworld (...) eles dizem para a criançada não fazer de conta que não saca nada de inglês, porque pega mal. Meu filho não saca nada de inglês. Se eu o levar à Disney, corro o risco de vê-lo tratado como irmão metralha?"
O segundo é de uma leitora que usa o pseudônimo "Indignada": "Sabemos que brasileiro não tem muita classe, mas isso não é privilégio nosso. Estive em Cancún em julho e a cidade estava abarrotada de americanos. Na grande maioria, eles eram muito mais vândalos do que torcida de futebol em final de campeonato, gritando no ônibus, no hall do hotel, vomitando pelas janelas dos ônibus e quase transando nas danceterias. Será que não deveríamos enviar um vídeo de volta para eles?"
Teve também um senhor de nome Márcio Costa, que me enviou e-mail dizendo não ter ficado espantado com o tal vídeo, uma vez que "Walt Disney era um fascista e é sabido que odiava latinos".
Reações dessa natureza fizeram que o porta-voz da Disney para a América Latina se apressasse em pedir desculpas públicas por ter "eventualmente ofendido o público brasileiro, mercado número um da Disney na América Latina".
Agora eu pergunto: é pecado a Disney tentar promover a boa convivência? Se nós tivéssemos educação principesca, será que eles iriam gastar dinheiro na confecção de um vídeo? Iriam correr o risco de se indispor à toa com uma parcela grande de seu público?
Claro que não. A "Indignada" tem razão. Malcriação não é privilégio nosso. Os hooligans ingleses e alemães estão aí e não deixam mentir. Mas, em vez de soltar cães e gatos contra a iniciativa da Disney, por que não tentar olhar para o próprio umbigo? Talvez se acabe descobrindo que os bons modos podem começar no restaurante, na hora de impedir a criançada de correr e gritar solta. Quem sabe não seja esse um bom ponto de partida para formar turistas um pouco menos indesejáveis?

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