São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 1996
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Avaliação da abertura

LUÍS NASSIF

O trabalho "Abertura Comercial: Uma Avaliação dos Primeiros Resultados", dos economistas Maurício Mesquita Moreira (gerente do Departamento Econômico do BNDES) e Paulo Guilherme Correa (pesquisador do BNDES e professor da Faculdade de Economia Cândido Mendes) é uma das primeiras tentativas abrangentes de quantificar os resultados da abertura da economia.
O estudo -ainda em fase de conclusão- contemplou cerca de 40 setores da economia. Baseou-se nas informações das Pesquisas Industriais Mensais (PIM-PF), nas do Índice de Preços por Atacado (IPA) e da Matriz Insumo-Produto de 1990 do IBGE (matriz que estabelece as relações entre fornecedores na economia).
Embora ainda esteja em fase preliminar, permitiu algumas conclusões interessantes:
1) Houve aumento generalizado e substancial dos coeficientes de importação na indústria manufatureira.
Para o total da indústria, o coeficiente de importação sobre produção passou de 6%, em 1990, para 15,6%, em 1995 -índices que vigoraram antes do primeiro PND. Apenas em 1995, o salto foi de 10,8% para 15,6% -uma violência, que rompe com o ritmo anterior e explica, em grande parte, os problemas generalizados que acometeram a indústria nacional.
2) O maior aumento foi no setor de material, aparelhos eletrônicos e de comunicação, cujo coeficiente de importação saltou de 20,4% para 77,6% no período.
Se forem levadas em conta também as exportações, o índice saltou de 20,6% para 45,9%.
3) A elevação do coeficiente importado foi acompanhado por um aumento quase generalizado do coeficiente exportado. Mas o aumento não foi na mesma magnitude.
Mesmo assim, o coeficiente exportado é o maior da história da industrialização brasileira, com destaque para produtos tradicionais, como indústria de madeira, metalurgia de não-ferrosos, celulose e suco de laranja.
4) Na classificação de utilização de importados, todas as categorias tiveram elevações substanciais nos componentes importados. Mas o destaque é para o setor de bens de capital, em que as importações bateram em 40% o consumo aparente.
Com exceção dos bens de consumo duráveis (não incluindo automóveis), todas as categorias aumentaram o coeficiente de exportação.
Ganha e perde
O trabalho procurou definir "ganhadores" e "perdedores" com a abertura, a partir da posição que cada grupo tinha no produto industrial em 1990.
Entre os "ganhadores", destacam-se a indústria de bebidas, celulose e farmacêutica -cuja posição cresceu mais de 50%, estimulada pelas vendas internas, pelas exportações (caso da celulose) e importações.
Entre os perdedores, material e aparelhos eletrônicos e de comunicação, fiação e tecelagem de fibras sintéticas e artificiais, siderurgia e outras indústrias têxteis. Todos tiveram perdas superiores a 30% em sua participação no PIB (Produto Interno Bruto) industrial.
Na categoria de uso, os grandes perdedores foram os setores de bens de capital (-20,6%), perda fortemente influenciada pelo comportamento das importações.
Os bens intermediários elaborados também tiveram perdas substanciais, mas provocadas pela retração do mercado interno.
Os setores intensivos em tecnologia tiveram ganhos durante a abertura, enquanto os setores intensivos em trabalho perderam participação, resultado explicado mais pelo comportamento da demanda doméstica e exportações do que pelas importações.
Os setores intensivos em escala (aqueles nos quais os custos caem quando aumenta a produção) tiveram pequena perda de participação, compensada pelos ganhos advindos da mudança de preços relativos e do aumento de eficiência.

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