São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 1996
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Comércio atrasa pagamento às indústrias

FÁTIMA FERNANDES
DANIELA FERNANDES

FÁTIMA FERNANDES; DANIELA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Associação Comercial diz que duplicatas vencidas e não pagas neste final de ano cresceram 250% sobre 95

Em pleno final de ano, período de maior consumo, o comércio começa a atrasar o pagamento às indústrias, sobretudo por causa da inadimplência do consumidor -que cresceu 18% em outubro sobre setembro, segundo a Associação Comercial de São Paulo.
Segundo Élvio Aliprandi, presidente da associação, o número de duplicatas do varejo vencidas -e ainda não pagas à indústria- cresceu 250% neste final de ano sobre o mesmo período de 1995.
As indústrias têxtil, de calçados, de higiene e limpeza e de alimentos informam que os lojistas chegam a atrasar até 30 dias o pagamento das mercadorias.
Sebastião Burbulhan, presidente do sindicato que reúne fabricantes paulistas de calçados, diz que o atraso de um mês ocorre especialmente com lojas de menor porte.
Ele conta que neste ano a dívida em atraso do comércio de calçados representa de 5% a 7% do faturamento da indústria. Em 1995 era da ordem de 3% e o atraso não passava de duas semanas.
Para a Agabê, fabricante de calçados masculinos de Franca (SP), o atraso das lojas chega a dez dias.
José Henrique Bettarello, diretor, conta que começa a ser uma prática comum o lojista solicitar mais dez dias de prazo na data do vencimento da fatura.
Na Agabê, a inadimplência dos lojistas chega hoje a até 8% sobre o faturamento. Há um ano esse percentual era de, no máximo, 6%.
Preocupação
A Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil) começa a ficar preocupada com o fato de o atraso no pagamento dos clientes -confecções, atacadistas e lojas- participar com 5% a 10% do faturamento das fiações e tecelagens.
"Isso sinaliza que a indústria pode voltar a se descapitalizar no futuro", afirma Paulo Skaf, vice-presidente da Abit.
Rubens A. Covolan, diretor da Covolan, fabricante de índigos, lycra, crepes etc., afirma que o atraso no pagamento das dívidas dos clientes chega a 15 dias. "Por enquanto está dando para suportar, mas estamos preocupados com o início do ano que vem."
Murad Salomão Saad, proprietário do Bazar Violeta, que comercializa roupas de malha, conta que neste mês foi forçado a pedir empréstimo bancário -pagando juros de 9% a 10% ao mês- para pagar as contas em dia.
"Os lojistas estão com muita dificuldade para pagar as dívidas. Tudo porque as vendas estão bem abaixo do esperado", afirma Saad, que é vice-presidente do sindicato que reúne o comércio paulista.
Para ele, o que também pode estar acontecendo é que alguns lojistas apostaram mais nas vendas, se estocaram e não estão conseguindo vender os volumes previstos.
"Isso está de fato desequilibrando o caixa das lojas de menor porte", diz Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo.
Soma-se a isso, continua ele, o fato de o comércio -para competir- estar oferecendo mais prazos para os consumidores ao aceitar mais cheques pré-datados.
Fabricantes de alimentos e de produtos de higiene e limpeza estão mais preocupados com a inadimplência prevista para o primeiro trimestre de 1997.
José João Armada Locoselli, presidente da Abipla, que reúne a indústria de produtos de limpeza, diz que o atraso no pagamento dos clientes -especialmente supermercados- chega hoje a seis dias -era de quatro dias há um ano.
"Os fabricantes temem que as restrições ao crédito, que podem vir no ano que vem, as altas taxas de juros e a queda nas vendas poderão agravar a inadimplência."
A Garoto, fabricante de chocolates, não está satisfeita com a inadimplência -que hoje representa de 3% a 4% do faturamento.
Mas o diretor Jacob Cremasco lembra que o atraso dos clientes, que hoje é de oito dias, em média, chegou a 15 dias no ano passado.

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