São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 1996
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Conflitos na África criam 'exilados'

Guerras impedem retorno

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Vários atletas de elite da África estão passando da emigração voluntária ao exílio forçado, devido aos numerosos conflitos bélicos que assolam o continente.
O caso mais proeminente é o de Venuste Niyongabo, 22, medalha de ouro nos 5.000 m na última Olimpíada, em Atlanta (EUA).
Nyongabo fez parte da primeira delegação de Burundi a participar de uma edição das Olimpíadas.
Mas, mesmo com a conquista, Niyongabo foi impedido de festejar a conquista com seus compatriotas nas ruas de Bujumbura, a capital daquele Estado africano, localizada às margens do lago Tanganika.
"Voltar seria perigoso demais", disse o empresário de Niyongabo, o italiano Enrico Dionisi.
Por isso, o atleta segue até hoje na cidade italiana de Siena, para onde se mudou, voluntariamente, há cerca de três anos.
Foi para a Itália para poder se preparar melhor para competições internacionais.
Niyongabo e seu compatriota Arthemon Hatungimana, também 22 anos e vice-campeão do mundo nos 800 m, pertencem à tribo dos tutsis, que estão em guerra com os hutus (leia texto abaixo).
Há um temor de que esses e outros atletas não possam mais voltar aos países de origem. Poderiam ser impedidos de disputar campeonatos continentais.
"Estamos espantados e consternados pelos conflitos de toda a região, mas só queremos dar um sinal de que, simplesmente, queremos viver em paz com todo mundo", disse Niyongabo ao diário alemão "Suddeutsche Zeitung", em uma reportagem publicada nesta semana.
Volta ao passado
Apesar da conquista de bons resultados nos últimos Jogos Olímpicos, quando ganharam 21 medalhas, os africanos parecem estar voltando ao passado.
John Akii Bua, medalha de ouro nos Jogos de Munique, em 1972, nos 400 m com barreiras, teve que abandonar seu país, Uganda.
Ficou quatro anos morando na Alemanha depois que sua casa, em Campala, foi saqueada por duas ocasiões. Por medo, não restou outra alternativa senão abandonar o país.
O somali Abdi Bile é outro que não teve coragem de pisar em sua terra depois que a Olimpíada acabou. Aos 33 anos, o ex-campeão do mundo (título conquistado em 1987) chegou às finais dos 1.500 m em Atlanta e festejou o sexto lugar como se houvesse conquistado uma medalha de ouro.
Era uma forma de extravasar a dor que sentia havia cinco anos, quando morreram 11 de seus familiares. Foram assassinados na costa da Somália, após serem expulsos do Quênia, para onde tentaram fugir.
Bile não voltou mais à Somália, nem depois que os líderes guerrilheiros Husseim Eidi e Ali Mohamed, que disputavam o domínio do país, assinaram um acordo de paz, já neste ano.

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