São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 1996
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Comédia preconiza a felicidade do dia-a-dia

MURILO GABRIELLI
ESPECIAL PARA A FOLHA

A felicidade não se compra. Não se produz, também, por milagre. O prazer deve ser encontrado no dia-a-dia, no trabalho, nos pequenos eventos domésticos.
A moral que está no fundo de "Eu, Minha Mulher e Minhas Cópias" não é nova no cinema nem na sociedade norte-americana. Tampouco no trabalho do diretor Harold Ramis.
O tema rendera a excelente comédia "O Feitiço do Tempo".
À rabugice e egoísmo seguia-se o vazio existencial do ócio e, por fim, a descoberta do amor e da alegria na rotina.
Neste "Eu, Minha Mulher", volta-se à questão do tempo. Não seu excesso, mas aparente falta.
Michael Keaton é um engenheiro estressado entre o trabalho de que não consegue dar conta e as demandas da mulher e dos filhos.
Recebe de um cientista uma proposta irrecusável: a produção de um clone seu, que trabalharia enquanto o original descansaria.
A experiência não resolve os problemas de agenda. Desobrigado de comparecer ao escritório, Keaton se envolve por demais nas tarefas do lar e tem de abdicar novamente de seu sonho de descanso -que inclui golfe e aulas de vela.
Apela, então, para um segundo clone. Mais tarde aparecerá ainda mais um, responsável por tomar conta dos dois primeiros.
Como em "Feitiço do Tempo", porém, flanar pela vida não traz ao protagonista felicidade alguma.
Os filmes de Ramis tratam, em suma, de um paradoxo da sociedade americana. Vende-se uma utopia de idílico "far niente", como se o desenvolvimento do capitalismo pudesse levar a todos as benesses da fidalguia.
O que conduz a esse progresso, porém, é um tipo de mentalidade laboriosa e calvinista que rejeita a satisfação imediata dos desejos, a aventura, a ociosidade.
Ramis preconiza o cotidiano como saída. Resolve, portanto, os problemas de tempo de seu personagem. Não os soluciona dentro de seu filme.
A falta de ritmo prejudica o que poderiam ser boas gags, alongam-se em demasia situações enfadonhas -e desnecessárias.
Não se chega a bom termo, também, na elaboração dos personagens de Keaton. Os clones se constroem a partir de alguma faceta da psiquê do original. O processo acaba por esvaziar o protagonista, que deveria funcionar como fio condutor do humor e da história.

Filme: Eu, Minha Mulher e Minhas Cópias
Produção: EUA, 1996
Direção: Harold Ramis
Com: Michael Keaton, Andie MacDowell
Cinemas: Metrópole, Aricanduva 5, Paulista 2 e circuito

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