São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 1996
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Brasil anuncia envio de tropa ao Zaire

AUGUSTO GAZIR
RUI NOGUEIRA

AUGUSTO GAZIR; RUI NOGUEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Contingente pode ser de apenas 120 soldados; medida ainda depende da aprovação do Congresso

O governo brasileiro aceitou participar da força de paz multinacional da ONU a ser enviada ao Zaire.
O envio das tropas brasileiras e os custos adicionais ao Orçamento que isso representa precisam ser aprovados pelo Congresso.
"O Brasil deverá enviar um pequeno contingente ao Zaire. Talvez uma companhia apenas (120 homens)", afirmou o porta-voz da Presidência, Sergio Amaral.
Segundo Amaral, vão para o Zaire soldados brasileiros em Angola -também na África-, onde o Brasil atua em outra força de paz.
O objetivo da missão é garantir a distribuição de alimentos e a ajuda humanitária a refugiados hutus no leste do Zaire. Vários países já aceitaram enviar tropas, entre eles os Estados Unidos, o Reino Unido, a Espanha e a África do Sul.
O governo americano anunciou anteontem que deve mandar cerca de mil soldados à região, mas só se houver um cessar-fogo entre as facções em luta na região.
A crise dos refugiados começou depois que os rebeldes tutsis banyamulenges lançaram uma ofensiva contra o Exército do Zaire no leste do país, justamente onde havia campos de refugiados.
Nos campos, estava mais de 1 milhão de hutus que havia fugido da guerra civil de Ruanda e Burundi.
Eles tiveram novamente de fugir por causa dos combates, e os grupos de ajuda internacional não puderam mais atingi-los para entregar a comida porque a região controlada estava pelos rebeldes.
Telefonema
Anteontem, o primeiro-ministro do Canadá, Jean Chrétien, havia pedido a ajuda brasileira em telefonema ao presidente Fernando Henrique Cardoso. O Canadá deve liderar a missão de paz.
FHC consultou os ministros militares e o das Relações Exteriores antes de aceitar o convite do primeiro-ministro canadense.
O presidente terá de enviar ao Congresso mensagem pedindo autorização para o envio das tropas.
Isso será feito depois que a ONU fizer o convite formal ao Brasil para participar da força.
Na missão a Angola, depois da aprovação pelo Congresso, as tropas brasileiras demoraram 30 dias para chegar ao país africano.
A força ainda precisa ser aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU. O tempo de atuação da força de paz deverá ser de quatro a seis meses. Cerca de 10 mil soldados deverão participar da operação no Zaire, segundo o Itamaraty.
Histórico
O Brasil participa de missões da ONU desde 1947. Hoje, 1.130 soldados estão em território angolano e integram o contingente de 7.600 homens da Unavem 3 (Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola).
Em 1947, observadores militares brasileiros participaram do Comitê Especial da ONU para os Bálcãs, que atuou na Grécia até 1951. Os observadores funcionaram como vigias da interferência dos países vizinhos na guerra civil grega.
A primeira participação em operação de paz aconteceu em 1956. O Brasil enviou para o Oriente Médio um contingente militar (600 homens) que ficou conhecido como Batalhão Suez e permaneceu na região até 1967.
Brasileiros passaram, como observadores ou em missões de paz, por Congo, Nova Guiné, Chipre, República Dominicana, Paquistão, El Salvador, ex-Iugoslávia, Uganda e Ruanda, Peru e Equador, Moçambique e Nicarágua.
As operações de manutenção de paz, caso de Angola e do Zaire, exigem o emprego defensivo de armamento. O soldado pode usar a força para controlar uma situação que atente contra a paz.
O Brasil nunca participou dos outros dois tipos de missão da ONU: operação de guerra e imposição da paz. Às voltas com uma dívida de cerca de US$ 3,5 bilhões, a ONU vem tentando diminuir os gastos com as missões armadas por causa dos altos custos.

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