São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 1996
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A ANGÚSTIA DO DÉFICIT

Tem sido notável a convicção com que a equipe econômica há meses tenta tranquilizar os mercados financeiros sempre que a balança comercial dá sinais de piora. Os argumentos são aceitáveis: é preciso reduzir o "custo Brasil", definir mais e melhores formas de financiar as exportações, calibrar o crescimento.
Mas entre o aceitável e o convincente há uma distância que o aumento no déficit comercial torna cada vez maior. E chega a ser dramática com o déficit de US$ 1,3 bilhão em outubro.
É cada vez mais frequente, nesse contexto, o argumento de que é possível e até necessário conviver com déficits comerciais. Essa tem sido a linha adotada, mais recentemente, principalmente pelo diretor do Banco Central Gustavo Franco. Os investimentos externos teriam o dom de viabilizar o crescimento, financiando os déficits comerciais.
Mas, se muda a retórica, na prática as autoridades vêm tentando reduzir o déficit, nem sempre com sucesso.
Um exemplo foi a tentativa do BNDES, que ofereceu linhas de crédito aos exportadores. Recuos na abertura comercial e controles administrativos sobre o crédito às importações também estão na agenda do governo, ainda que extra-oficialmente.
O exame dos dados revela que a questão não é simples. Do lado das exportações, por exemplo, tem ocorrido até alguma expansão. Mas é uma expansão fortemente amparada no Mercosul, por exemplo, com a simultânea redução de vendas para a União Européia e a Ásia (para os EUA, têm sido estáveis).
Esse resultado reflete a própria valorização do dólar nos mercados internacionais, mas é também evidência do que os economistas definem como "desvio de comércio", resultado da criação de sistemas econômicos regionais (como o Mercosul).
Não é mais possível atribuir o desânimo com a deterioração da balança comercial apenas ao nervosismo dos mercados. A equipe econômica deve à sociedade uma resposta mais clara, mais consistente e mais pragmática.

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