São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 1996
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REELEIÇÃO NA PRÁTICA

O segundo turno das eleições municipais tende a confirmar o que já se verificara no primeiro turno: na prática, aplicou-se em grande parte do país o princípio da reeleição, ainda que por interpostas pessoas. Tendência é mais nítida no caso das três principais capitais do país, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Paulo Maluf (PPB) deve "reeleger-se" indiretamente, se as pesquisas estiverem corretas, fazendo de Celso Pitta o seu sucessor. Semelhante raciocínio vale para Cesar Maia (PFL), no Rio de Janeiro. Seu candidato, Luiz Paulo Conde, lidera nas pesquisas. Em Belo Horizonte, é o vice-prefeito Célio de Castro (PSB) quem deve substituir Patrus Ananias (PT), em claro sinal de continuidade.
No primeiro turno, Porto Alegre, Curitiba e Vitória, entre outras, também elegeram prefeitos que pertencem aos partidos que já estavam no governo. Em Recife, venceu o candidato apoiado pelo atual prefeito.
Essa continuidade tem uma explicação: a Constituição de 1988 privilegiou os municípios no bolo de receitas fiscais, situação que só se consolidou a partir de 92, fornecendo portanto aos atuais prefeitos recursos para investimentos que, agora, capitalizam eleitoralmente.
A continuidade explica igualmente, em grande medida, o fato de o pleito não ter se federalizado. Os grandes temas nacionais estiveram ausentes da campanha, centralizada em questões locais. A cidade de São Paulo é o principal exemplo: os temas dominantes foram o serviço municipal de saúde, com o debate sobre o PAS, e a ação municipal na habitação popular e no transporte público. Em decorrência, também os grandes líderes nacionais pouco ou nada apareceram durante as campanhas.
É razoável, por isso, supor que será muito relativo o efeito do pleito municipal sobre o cenário político nacional. A rigor, apenas o êxito de Paulo Maluf em São Paulo tende a provocar consequências nacionais, catapultando o prefeito como eventual alternativa de poder para 1998.

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