São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 1996
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Democracia e modernidade

LUIZA ERUNDINA

Esta tem sido uma campanha em que disputam não apenas dois candidatos, um que prioriza obras e outra que prioriza serviços públicos. Aqui se enfrentam dois projetos políticos antagônicos. Um deles, disfarçado pela milionária campanha publicitária que lhe dá aparência de novidade, conserva tudo o que a velha direita pretende, isto é, autoritarismo, desigualdades e falta de lisura no trato da coisa pública.
O outro projeto está assentado sobre uma ampla aliança de forças progressistas, para com elas organizar um governo cujas decisões serão democraticamente tomadas, visando ao interesse da maioria da população e à construção de uma cidade moderna e mais justa, capaz de enfrentar os desafios do próximo milênio.
O que é administrar? É fazer escolhas e saber orientar a adequação entre o orçamento e opções políticas, definindo prioridades.
O que é administrar uma cidade da envergadura de São Paulo? É não se limitar às funções tradicionais de prestação de serviços, pois se trata de uma cidade cujo orçamento é o terceiro do país e que contribui com 20% do Produto Nacional Bruto.
Estas eleições municipais, colocando face a face dois projetos políticos antagônicos, são o primeiro momento de uma definição dos rumos nacionais da política brasileira. E nossa cidade não pode aceitar uma continuidade que a mantenha como está, isto é, sem voz nas grandes decisões nacionais e omissa quanto a iniciativas socioeconômicas de grande porte.
Nosso governo terá como base três grandes metas:
1) São Paulo e a economia: um governo de desenvolvimento econômico, que tome iniciativas de fomento da economia, estimulando investimentos que assegurem o crescimento de atividades existentes e gerem novas áreas de atividade, numa perspectiva de modernização da cidade e de geração de novos empregos;
2) São Paulo e a qualidade de vida: um governo para todos, preocupado com a melhoria da qualidade de vida, pois, hoje, nem mesmo os ricos vivem bem numa cidade insegura, violenta e sob os efeitos devastadores da poluição e da deseconomia provocada pelo caos no trânsito e nos transportes.
Temos um plano diretor de racionalização do trânsito; uma política de educação que não só conserva as crianças fora das ruas, mas sobretudo lhes garante o acesso às formas modernas da instrução; um plano de obras que determina a obra certa, no lugar certo e a preço justo; programas de saúde e de habitação voltados para a dignidade dos cidadãos;
3) São Paulo e a democracia: um governo de democratização do poder, com a descentralização político-administrativa, por meio de subprefeituras e eleição direta de conselhos regionais de representantes, diminuindo o poder do núcleo central de governo e garantindo o atendimento diferenciado das várias regiões da cidade, conforme a história e a vocação de cada uma delas.
Essas metas irão reverter a devastação malufista do orçamento da cidade, porque incentivarão o desenvolvimento econômico do município, organizarão num só esforço político-administrativo todas as forças progressistas da cidade, e porque temos conosco a experiência adquirida, a responsabilidade na determinação das prioridades, idéias novas para um salto de qualidade com relação ao que realizamos anteriormente, equipes renovadas e dedicadas, cuja meta é uma cidade em que modernidade e justiça possam andar juntas.
Democracia não é apenas a alternância de governos. Democracia moderna é também a criação e garantia de direitos civis, sociais e políticos. Um governo que despreza direitos, embora eleito, nem por isso é verdadeiramente democrático.
Como candidata, falo em nome de uma história coletiva, que foi construída na luta por direitos, pelos movimentos sociais e populares e pelos movimentos democráticos de oposição à ditadura.
Por isso mesmo, nós, forças sociais e políticas que nos opusemos à ditadura, marchamos pelas Diretas e pelo impeachment, lutamos contra todas as formas de discriminação (racial, sexual, religiosa, social, cultural) e de violência (contra crianças, mulheres, negros, nordestinos, aidéticos, desempregados), não estamos dispostos a deixar a cidade nas mãos das forças desacreditadas da velha direita brasileira, que, depois de cada desastre, tenta negar seu passado, aparentando ser novo o que sabemos ser velho, porque não faz outra coisa senão forçar até o insuportável a desigualdade social e a exclusão política, isto é, as formas reais de discriminação.

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