São Paulo, sábado, 16 de novembro de 1996
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Filha de Lampião não vai comparar DNA

WILLIAM FRANÇA
ENVIADO ESPECIAL A JUIZ DE FORA (MG)

A única filha reconhecida de Lampião e Maria Bonita, Expedita Ferreira Nunes, 64, disse ontem que não vai permitir que seu DNA (código genético) seja comparado com o do fazendeiro Antônio Maria da Conceição, morto em 1993 em Minas Gerais.
O exame diria se Conceição é ou não seu pai, como afirma o fotógrafo José Geraldo Aguiar, que há quatro anos e meio vem pesquisando a vida do fazendeiro.
"O meu pai (Lampião) é um mito. O que querem agora é acabar com a imagem e o mito que foi esse homem", disse Expedita ontem à Folha, por telefone, de Aracaju (SE), onde mora. "Não vou dar sangue, não vou dar DNA, nem um pedacinho meu para nada."
Expedita, que ficou conhecendo a história do fazendeiro depois da sua publicação, pela Folha, na última quarta-feira, disse que há vários interesses por trás da versão de que Lampião e Maria Bonita fugiram para Minas Gerais.
"Tem gente safada, metida a sabida, se metendo onde não lhe interessa, querendo ganhar dinheiro com essa história descabida."
O fotógrafo Aguiar está escrevendo um livro, "Lampião, o Invencível", com base em depoimentos, documentos e fotos, contando a história do suposto Lampião e de seus 55 anos de fuga por quatro Estados (Minas, Bahia, Alagoas e Goiás).
Falso irmão
Há cerca de quatro anos, Expedita se submeteu a um teste de DNA para tentar identificar um suposto irmão seu, conhecido como João Peitudo, que atualmente trabalha numa rádio em São Paulo. O exame não foi conclusivo.
"Fui para São Paulo, tirei sangue e fiquei um mês lá, sentada, esperando o resultado. O meu sangue foi para os Estados Unidos e não deu em nada", disse Expedita.
Numa nova tentativa, o DNA de João Peitudo foi comparado com o de uma irmã de Lampião, Mocinha -ainda viva, em São Paulo-, e de uma irmã de Maria Bonita, que poderia ser sua tia. Mas as comparações foram negativas.
Expedita disse que toda essa confusão de exames a deixou irritada. "Quem viveu até agora sem irmão vai viver o resto da vida", afirmou. Ela disse ainda que o mesmo vale para sua suposta nova família -o fazendeiro deixou 11 filhos.
Expedita tem quatro filhos e três netos. Hoje, é uma dona-de-casa que passa o tempo fazendo curso de pintura em porcelana.
"Na época do João Peitudo, ele queria repartir a herança do meu pai -que eu nem sei qual é- porque dizia que a gente era rico, e ele era pobre. Agora é o contrário, mas não quero saber de nada", disse Expedita, ao ser informada de que o fazendeiro enterrado em Buritis (MG) deixou muitos bens.

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