São Paulo, sábado, 16 de novembro de 1996
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Quando o jornalismo derruba o futebol

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, sabe-se que a imprensa esportiva está na lanterna da já degradada credibilidade do jornalismo brasileiro.
Os fatores para tal situação são históricos: jornalistas que receberam pagamentos ou ajuda de clubes e federações, jornalistas que venderam passes de jogadores -e outras violações da ética profissional.
Passamos a ter, também, uma outra variante, notadamente na TV: a dos profissionais de imprensa que também são promotores de eventos esportivos, onde o jornalismo submete-se à propaganda.
Mas, agora, conseguimos descer mais um degrau na degradação da profissão.
Um jornalista invade um campo de futebol para agredir jogadores, profissionais do jogo de futebol, que cometeram o pecado de serem, na partida, mais competentes do que os adversários do time do jornalista travestido de troglodita de torcida organizada.
Que este jornalista, pretendendo manter o espírito de "humor carioquês" (que na verdade só denigre o Rio de Janeiro), ainda tenha sido cínico sobre a sua tentativa de agressão, é um agravante para o seu deslize como profissional da imprensa e como cidadão.
Que este jornalista seja João Luiz Albuquerque, que sempre assinou textos de qualidade rara na imprensa de hoje, onde a observação original sempre encontrou a melhor forma escrita, é outro agravante para este fato repugnante.
Fica cada vez mais difícil para a imprensa cobrar mudanças no futebol no momento em que ela é novamente atingida, em sua própria casa, por um de seus supostos aliados.
Sempre procurei, nesta coluna, não emitir julgamentos morais sobre o comportamento de jogadores, dirigentes etc. Não me considero modelo de conduta moral para ninguém.
Mas o pior para a imprensa é quando ela tenta não dar a relevância necessária para os seus próprios delitos.
*
Vejo que o velho Lobo do fut Zagallo, sem abandonar a sua insistência com o tal de número "1" que ligaria o meio-campo ao ataque, diz que voltará ao espírito da seleção de 1970, quando um modelo tático foi adaptado para os bons jogadores -e não apesar deles.
Quem assim seja, e é isso que se espera do técnico brasileiro. O mais difícil em futebol é o recurso humano. Quando ele está farto, como no final deste século no Brasil, não se pode correr o risco de desperdiçá-lo.
Imagine só, a título de "Ibrahim storm", como diria uma amiga, um tripé no meio-campo composto de Cafu, na linha média direita, Mauro Silva (ou Flávio Conceição, ou Amaral, ou Zé Elias, sei lá), pelo meio, e Leonardo (ou Rivaldo), pelo setor médio esquerdo.
Nas alas, Zé Maria, direita, Roberto Carlos, com o Andrezinho na reserva, na esquerda.
No ataque, leitor, escale quem você quiser ao lado do Ronaldinho e do Giovanni (vale o Djalminha, o Juninho, o Denílson, o Luisão, o Bebeto, o Sávio, o Edmundo, o Jardel -que oportunismo nos dois gols da virada do Porto contra o Milan, em pleno San Siro, némesmo?- o Marcelinho...).
O velho Lobo tem em mãos um time que pode entrar para a história, abençoado por Deus e bonito por natureza.

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