São Paulo, sábado, 16 de novembro de 1996
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Brasileira explora ambiguidades

DA REPORTAGEM LOCAL

A carioca Rosana Lamosa, a Violetta do elenco brasileiro na montagem de "La Traviata", já fez ao menos oito papéis desde que, há sete anos, estreou no Municipal de São Paulo, em "As Bodas de Figaro", de Mozart.
Dona de um delicado timbre de soprano lírico, ela pensa também como atriz em seu atual personagem. Diz que confluem em Violetta as ambiguidades próprias de quem, no fundo, sente saudades da vida de cortesã.
Eis os principais trechos de sua entrevista à Folha.
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Folha - Qual é a dificuldade específica do papel de Violetta, tão diferente dos que a sra. tem até agora cantado?
Rosana Lamosa - Ele é muito difícil, do ponto de vista técnico. Emocionalmente, também é um papel com dificuldades. A personagem é constantemente ambígua. Ela tem dúvidas se pretende se entregar a esse amor ou não. Ela mistura a culpa por ser cortesã com a consciência de sua origem social inferior. Violetta sente saudades do luxo, mas ao mesmo tempo gosta de Alfredo.
Folha - Qual a cena de mais difícil interpretação?
Lamosa - É a do segundo ato, quando Giorgio Germont, o Germont pai, a persuade a se afastar de seu filho Alfredo. Pergunto-me como vou convencer o público de que Violetta aceita se desfazer do homem que ama, em nome de razões que não são são suas.
Folha - Ou seja, não se trata a seu ver de um enredo contemporâneo, porque essa renúncia seria hoje inconcebível?
Lamosa - Ela talvez se explique no romance de Dumas, quando Violetta é objeto de digressões em em que é contextualizado tudo o que ela viveu até então.
Folha - Violetta, a seu ver, hesita entre Alfredo e a volta à sua antiga rotina de prostituta de luxo?
Lamosa - Essa é uma das idéias de Jorge Takla (diretor cênico). Violetta efetivamente demonstra de forma sutil que sente saudades de sua antiga rotina.
Folha - Há então certas sutilezas que se podem encontrar no romance de Dumas mas que não são tão nítidas na ópera de Verdi?
Lamosa - A ópera tem limitações de tempo para que a história possa ser contada. É inevitável que o romance discorra sobre s ambiguidades de um jeito mais claro.
Folha - Com relação aos outros papéis que a sra. cantou, no que Violeta acrescenta algo de mais denso, de mais difícil?
Lamosa - Violetta é o papel que toda soprano sonha um dia em fazer. Eu hoje me sinto preparada para cantá-lo. No começo do ano, quando foram feitas as audições (para a escolha da intérprete brasileira), achei que talvez fosse ainda muito cedo para mim. Eu hesitei até o último minuto.

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