São Paulo, sábado, 16 de novembro de 1996
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Italiana já foi Violetta 35 vezes

DA REPORTAGEM LOCAL

Para a soprano italiana Giuzy Devinu, a personagem de Violetta funciona quando a soprano é capaz de transmitir emoções.
A voz é um "instrumento de expressão da alma", diz a intérprete do principal papel feminino, no elenco estrangeiro de "La Traviata", do Teatro Municipal.
Aqui estão os principais trechos de sua entrevista à Folha.
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Folha - A sra. já fez o papel de Violetta em 35 montagens. Não lhe dá por vezes vontade de subverter radicalmente a interpretação desse personagem?
Giuzy Devinu - Eu por vezes me surpreendo do pouco esforço necessário para não me tornar sistematicamente a mesma pessoa na interpretação de Violetta. A cada vez que trabalho o personagem, é como se ele aparecesse com ângulos diferentes. Há também uma energia própria ao personagem que impede que ele seja rotineiro.
Folha - Violetta já foi ou continua sendo cantada por sopranos do peso de Maria Callas, Tiziana Fabriccini, Renata Scotto. Não são presenças virtuais, que canalizam a interpretação num determinado sentido?
Devinu - Não é bem isso que ocorre. Minha voz não se assemelha à voz de nenhuma das três (ou das quatro, ou das cinco Violettas notáveis). Se deixar "controlar" por essas grandes cantoras implicaria também supor que é possível incorporar uma experiência que é só dessas cantoras. Por fim, digamos que, se uma Violetta verdadeira funciona, a cópia dessa Violetta não poderá funcionar...
Folha - Não haveria sequer um pouquinho de superego musical?
Devinu - Vejamos Maria Callas, a quem eu admiro bastante. Ela não fez apenas uma grande Violetta. Ela foi grande em tudo. Todos os seus papéis foram divinamente interpretados. Mas hoje existimos nós. Callas não mais existe.
Folha - Os artistas líricos estão cada vez mais divididos entre aqueles que cantam para o público e aqueles que só cantam nos estúdios de gravação e são conhecidos por seus CDs. É injusto?
Devinu - São dois mundos completamente diversos. Eu, particularmente, já conheci Violettas que em discos são muito boas, mas que, nos teatros, são bem sofríveis. E vice-versa. A verdade desse personagem não pode ser transmitida pelos discos. A cantora deve transmitir muita emoção. Num espetáculo, a emoção se torna mais importante que a beleza da voz. A voz deve ser um instrumento da alma.
Folha - A sra. tem frequentemente interpretado os principais papéis do repertório italiano. Qual deles ainda não cantou, e que lhe deixa com água na boca?
Devinu - Eu nunca fiz "Norma" (Bellini) e "Buterfly"(Puccini). Não sei se conseguirei.

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