São Paulo, sábado, 16 de novembro de 1996
Próximo Texto | Índice

Líder croata está com câncer, diz TV

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O presidente da Croácia, Franjo Tudjman, está internado no Hospital Walter Reed, do Exército dos EUA, em Washington, para onde foi levado em segredo anteontem. A informação foi confirmada ontem pelo Departamento de Estado.
O porta-voz Nicholas Burns disse não estar "na posição de comentar sobre as condições de saúde" de Tudjman, e o hospital afirmou não estar autorizado a divulgar os motivos para a internação do presidente. Segundo a rede CNN de televisão, Tudjman sofre de câncer em estado crítico.
O gabinete de Tudjman divulgou declaração de dois médicos, segundo a qual o presidente está com úlcera estomacal e inflamação linfática. De acordo com a agência oficial de notícias da Croácia, "Hina", o presidente está apenas fazendo check-up de rotina.
A confirmação da presença de Tudjman em Washington aconteceu horas após o presidente Bill Clinton ter anunciado que os EUA concordaram, em princípio, em participar com 8.500 soldados da nova força internacional de paz que vai atuar na ex-Iugoslávia até pelo menos meados de 1998.
Os EUA têm 15 mil dos 30 mil soldados da atual força de implementação do acordo de paz de Dayton. Clinton havia limitado a um ano a participação militar dos EUA no processo.
Ontem, ele negou ter atrasado até depois da eleição presidencial o anúncio de sua decisão de manter tropas do país na ex-Iugoslávia por outros dois anos. Segundo ele, o pedido com esse objetivo da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) só ocorreu na semana passada.
Tudjman, 74, foi um dos personagens centrais das negociações de Dayton. Ele e seus colegas Slobodan Milosevic, da Sérvia, e Alija Izetbegovic, da Bósnia, chegaram a um acordo após semanas de reuniões intensas com o então secretário assistente de Estado Richard Holbrooke, numa remota base aérea em Ohio, Meio-Oeste do país.
Ele foi aliado do general Josip Broz Tito na luta contra o nazismo durante a Segunda Guerra Mundial. Mas rompeu com o regime socialista da Iugoslávia sob o controle da Sérvia e o comando de Tito nos anos 50. Deixou o Exército e se dedicou ao estudo de história.
Nas décadas de 70 e 80, voltou à militância política e foi preso duas vezes por "atividades contra-revolucionárias". Após a morte de Tito, em 1980, fundou a União Democrática da Croácia, partido com que chegou ao poder em 1990, com o fim do socialismo.
No ano seguinte, a Croácia se declarou independente da Iugoslávia. Mas a minoria sérvia na Croácia ocupou cerca de 30% do país.
Em 1994, Tudjman aceitou, sob pressão dos EUA, a formação de uma aliança entre seu país e a Bósnia. Mas ele tem sido acusado de incitar os croatas na Bósnia à secessão, com o objetivo de criar uma "Grande Croácia", como Milosevic tentou formar uma "Grande Sérvia".

Próximo Texto: Pyongyang desafia EUA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.