São Paulo, sábado, 16 de novembro de 1996
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Subserviência; Desapropriações; Escravidão; Provão; Juca Kfouri

Subserviência
"A subserviência da imprensa à nova ordem política-econômica é cada vez mais irritante.
A cobertura da Folha sobre a queda do ministro Jatene parece um extrato perfeito desse cenário. Na terça-feira a edição do jornal já adiantava a queda. O tom foi o de que, sem conseguir mais dinheiro, o ministro decidiu sair. A crítica do 'governo' à administração Jatene se concentra na 'falta de criatividade' do ministro.
Num texto menor, na mesma página, o jornal publicava, a meu ver, a grande notícia: o ministro saiu porque o governo queria que ele cortasse verbas de outros programas, como vacinação. Essa a 'criativa' alternativa da equipe econômica que não mereceu uma crítica sequer do jornal.
A última edição de 'Carta Capital' traz uma reportagem extremamente esclarecedora do poder do ministro Sérgio Motta numa área em que os meios de comunicação (Folha inclusa) têm imenso interesse. A mesma revista traz uma entrevista bombástica com Edwaldo Sarmento, presidente de um tal de Sindicato da Indústria de Instalação e Manutenção de Redes, Equipamentos e Sistemas de Telecomunicações do Estado de São Paulo, o Sindimest. Sarmento faz acusações seriíssimas contra o sistema Telebrás e diz ter provas.
Nenhuma repercussão. Aí eu me pergunto: fosse no tempo do governo Sarney e com o ACM à frente da pasta, o silêncio seria o mesmo?
Daqui a pouco, a impressão que vai ficar é que Sérgio Motta e sua turma têm muito mais do que amigos entre donos de jornais e jornalistas. Têm ali interesseiros que aceitam silenciar."
Antonio Flávio Arantes (Varginha, MG)

Desapropriações
"O objetivo desta é, acima de tudo, congratular este jornal pelo interesse demonstrado, em reportagem publicada no último domingo e editorial da edição de quarta-feira, dia 13 do corrente, por um assunto que tem preocupado o governo do Estado e o qual ele tem procurado enfrentar com todos os meios de que dispõe.
Conforta o reconhecimento implícito nos textos citados de que o governo tem agido com vigor na busca de soluções para os problemas decorrentes das desapropriações em áreas de proteção ambiental.
Permita-nos, porém, fazer algumas observações, que julgamos pertinentes, a respeito de questões ali levantadas. A dívida proveniente das desapropriações, por exemplo, não passa de R$ 2 bilhões. O total de R$ 6 bilhões, a que se refere a reportagem de domingo, corresponde à dívida total do Estado.
Também é injusto dizer que '...o poder estatal desapropria ou intervém sem considerar as consequências e em seguida procura furtar-se à indenização, postergando-a ao máximo'.
O governo, na verdade, neste caso, não desapropria, mas é paciente de desapropriação indireta movida pelos proprietários de áreas declaradas de proteção ambiental que se julguem prejudicados.
E a intervenção não é feita 'sem se considerar as consequências'. Ela só ocorre depois de levantamentos e estudos procedidos pelos órgãos competentes e com o sentido de preservar a natureza.
Concordamos em que 'algumas compensações requeridas são desproporcionais ao valor real da propriedade'. Mas isso não ocorre por incompetência ou 'algo pior', na defesa jurídica do Estado, como sugere o editorial. Reconhecemos que em alguns casos haja falta de meios para evitar as condenações, porém o Estado procura sempre detectar e sanar os problemas.
É conveniente lembrar também que, no passado, escudados numa sistemática prevista na Constituição Federal e buscando tirar proveito da inflação constante, alguns governos podem ter procurado postergar o pagamento de indenizações.
Não é, porém, o caso do atual governo, que tem como norma a intransigente defesa dos cofres do Estado, mas não foge aos seus compromissos, tratando de saldá-los na medida de suas disponibilidades financeiras."
Márcio Fellipe Sotelo, procurador-geral do Estado (São Paulo, SP)

Escravidão
"O salário do brasileiro é de semi-escravidão. Com o cancelamento da Convenção 158 da OIT vai virar escravo, sim senhor."
Leonardo Sérgio Nogueira Teixeira (Itanhandu, MG)

Provão
"Particularmente, também sou a favor da aplicação do provão enquanto medidor da qualidade de ensino, embora sua aplicação isolada não aponte referências suficientes.
Seria ingênuo, porém, acreditar na aparente boa intenção desse instrumento. Lembremo-nos de que no caso das universidades federais o próprio governo federal é responsável pelos crescentes cortes de verbas e que estes repercutem diretamente na qualidade de ensino dessas instituições."
Marcelo Rother de Souza (Juiz de Fora, MG)

Juca Kfouri
"Alguns colunistas da Folha estão sujando a imagem deste combativo jornal. Um deles é Juca Kfouri, que faz uma assessoria descarada de Pelé.
A relação desse ex-jornalista com o maior atleta do século é, no mínimo, vergonhosa; afinal, é muito suspeita a defesa e a propaganda que Kfouri faz diariamente de Pelé.
Ele chega a fazer até incansáveis comentários elogiosos aos filhos gêmeos do rei, mas nunca escreveu, por exemplo, sobre a atitude de Pelé em não reconhecer a paternidade de uma filha bastarda.
Ou seja, se depender do ex-jornalista Juca Kfouri, nós, pobres leitores, nunca vamos saber das irregularidades que o sr. Edson Arantes do Nascimento venha, porventura, a cometer no Ministério dos Esportes."
Deraldo Dias Reis Filho (Salvador, BA)

Resposta do jornalista Juca Kfouri - Sou amigo de Pelé e concordo, no essencial, com a política do ministro para o esporte brasileiro. Se um dia houver irregularidades em sua gestão e eu souber, o leitor também saberá. Como soube, aliás, em minha coluna do último dia 9, da denúncia envolvendo, certamente por coincidência, o também morador em Salvador João Calazans, presidente da Confederação Brasileira de Triatlo e acusado de desviar verbas do ministério.

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