São Paulo, sábado, 16 de novembro de 1996 |
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Defender a Vale
JOÃO FASSARELA; TILDEN SANTIAGO JOÃO FASSARELA e TILDEN SANTIAGOO discurso da privatização se sustenta no argumento de que as estatais são ineficientes. Independentemente do debate sobre as causas dessa ineficiência, cabe registrar que a Vale do Rio Doce não entra nesse figurino. Todas as fontes consideram-na rentável, dinâmica e potente. A outra ponta do discurso acena com a necessidade da privatização para reduzir o déficit público. Esse objetivo tampouco está sendo alcançado. O ministro Bento José Bugarin, do Tribunal de Contas da União, analisando o plano de desestatização, sustenta: "Também com respeito aos aspectos de redução da dívida pública e de saneamento das finanças estatais, os resultados obtidos pelo PND devem ser encarados com reserva". Claro, à altura em que o ministro escreveu seu artigo, apenas 5,4% dos minguados recursos obtidos com a privatização eram em moeda corrente. Esse quadro permite afirmar que, antes de sanear o Estado, as privatizações estão sendo uma nova sangria. Também é problemática a noção de que a Vale é uma empresa. Mais correto seria chamar essa entidade de capital aberto, com 51% de suas ações pertencendo à União, de uma agência de desenvolvimento vital para um projeto de retomada do crescimento autônomo do país. Esse dínamo é tanto mais indispensável quando se constata que o Estado brasileiro, constantemente parasitado pelo sistema financeiro privado, se torna cada vez menos capaz de investir no desenvolvimento econômico. Daí a necessidade de preservar uma agência que tem revelado enorme capacidade de dinamizar a economia de diferentes regiões do país. Por outro lado, o preço da Vale é um mistério. O BNDES estima que a companhia vale US$ 10 bilhões, o que equivale a um mês de rolagem da dívida pública. Quer dizer, o governo quer torrar a Vale em apenas um mês da orgia perpétua dos juros. Mas, segundo o senador Edison Lobão (PFL-MA), "há avaliações extra-oficiais que estimam em US$ 200 bilhões o valor da companhia, e há outras que chegam a avaliá-la em mais de US$ 1 trilhão". O próprio senador se pergunta: "Como processar uma venda se se torna inviável uma avaliação correta das suas potencialidades?" Diante da perplexidade do senador, é possível assegurar que, se a Vale pertencesse ao cidadão Fernando Henrique Cardoso, ele não faria esse negócio. Mas, como ela pertence à nação brasileira, o presidente da República, imbuído do espírito de dona Maria 1ª, a demente, que tudo fazia para impedir a viabilização do Brasil, quer fazer um negócio desastroso para a nação, que compromete seu controle sobre riquezas naturais incalculáveis e que não produzirá qualquer tipo de efeito positivo. Daí a necessidade da união de todos contra a insensatez que é a venda da Vale do Rio Doce. João Fassarela, 53, é deputado federal pelo PT de Minas Gerais e coordenador do partido para os assuntos da Vale do Rio Doce. Tilden Santiago, 56, é deputado federal pelo PT de Minas Gerais e presidente do partido em Minas Gerais. Texto Anterior: A galinha dos ovos de ouro e de ferro Próximo Texto: Subserviência; Desapropriações; Escravidão; Provão; Juca Kfouri Índice |
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