São Paulo, sábado, 16 de novembro de 1996
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Pau-de-arara

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - O Brasil pretende gastar uma nota para sediar a Olimpíada de 2004 no Rio. Já existe uma comissão tratando disso e fazendo pressão internacional a fim de convencer o comitê que terá a palavra final.
Não faltam maravilhas ao Rio -sou a primeiro a mais insistentemente cantá-las em prosa e, poeta fosse, o faria em versos. Tivemos a experiência da Eco-92, quando a cidade transformou-se num paraíso urbano durante os cinco dias em que durou a conferência.
Mas os dois jornalistas suíços que entraram comigo num vôo que saiu de Milão para o Rio, nesta semana, juraram pela memória de Guilherme Tell, de Calvino e Rousseau que iriam trabalhar contra a idéia.
Foi um espetáculo deprimente. Depois de uma viagem de algumas horas, qualquer avião adquire um bafio de pau-de-arara, papéis e copos pelo chão, o ar viciado pelos corpos que mal dormiram. Uma das principais preocupações das companhias aéreas é a rapidez na limpeza e maquilagem daquilo que elas ainda chamam de "aeronave".
As empresas aéreas representam de alguma forma o país de origem. Elas se confundem com o próprio país, têm as cores nacionais ou levam a bandeira nacional bem destacada na fuselagem -como é o caso da Varig.
Pois o avião da Varig daquela quarta-feira, vindo de mil escalas, faria mais uma em Milão antes de chegar ao término da viagem, que era Roma. Muitos passageiros viriam para o Rio e São Paulo e ali iniciariam a viagem. Inclusive os dois jornalistas suíços que ficaram chocados com a situação da classe executiva. A quadra da Mangueira, depois de uma noite de ensaio, não estaria mais emporcalhada.
A limpeza seria feita na escala de Roma -foi o que garantiu a comissária. Em Milão, haveria apenas desembarque e embarque de passageiros. Dois deles, pelo menos, juraram que vão combater a idéia de se realizar Olimpíada num país onde a higiene é uma questão de escala.

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