São Paulo, sábado, 16 de novembro de 1996
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Ainda mais lucrativa

JOSÉ PIO BORGES

Muitos ainda se perguntam por que o governo vai vender uma empresa lucrativa como a Vale. A resposta é evidente: primeiro porque, privatizada, ela será mais lucrativa ainda. Por ter seu controle acionário nas mãos do Estado, a Vale sofre, hoje, entraves administrativos e financeiros que reduzem seu dinamismo empresarial.
Decisões relativas a seu orçamento, a novas associações e a investimentos dependem do governo, de órgãos públicos e até do Congresso Nacional. Além disso, a empresa padece de restrições para a contratação de pessoal e de serviços de terceiros e até para comprar suprimentos.
Essas amarras limitam sua eficiência gerencial e a prejudicam, porque a Vale atua em um mercado extremamente competitivo, no qual suas concorrentes são grandes empresas privadas ágeis e fortemente capitalizadas.
É bom lembrar que, por ser privatizada, a Vale não irá desaparecer nem sair do lugar. Ao contrário: sem aqueles entraves, poderá captar mais recursos para investir e poderá alcançar novos patamares de produção. Será mais competitiva. E, assim, irá gerar mais renda, mais impostos e mais empregos.
A privatização da Vale será vantajosa para o país também por outra razão. Quanto ganha o dono da Vale (ou seja, a União) com a Vale?
Esse ganho vem na forma de dividendos. Quanto a Vale paga em dividendos ao seu acionista principal, o Tesouro? No período de 1988 a 1995, a média foi de apenas 2% ao ano. Para a sociedade brasileira, é mais vantajoso, sob esse aspecto, vender a companhia e, reavendo os recursos que lá estão aplicados, possibilitar o surgimento de muitas outras Vales. Capazes de alavancar o crescimento econômico, inclusive nas regiões em que hoje a empresa atua.
Além disso tudo, a venda da Vale tem um sentido macroeconômico: com essa operação, o Brasil praticamente encerrará um ciclo no processo de reforma do Estado -estará finalizando a desestatização da indústria. Encerra-se uma época, a do Estado-empresário.
A venda da Vale será, portanto, uma importante etapa na caminhada para que o governo, libertando-se dos encargos empresariais, possa dedicar integralmente seus esforços e seus recursos às atividades que, como no mundo inteiro, são sua responsabilidade indeclinável -saúde, educação básica, justiça, segurança. Ou seja, bem-estar para os cidadãos.

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