São Paulo, sábado, 16 de novembro de 1996
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A galinha dos ovos de ouro e de ferro

REGINA ASSUMPÇÃO

De 1942 a 1995, a Vale tirou das entranhas de Minas Gerais US$ 21,6 bilhões em minérios. Nesse mesmo período, o Tesouro Nacional, seu sócio majoritário, investiu na empresa, também a valores históricos, apenas US$ 595 milhões.
Minas, portanto, foi o maior gerador do atual patrimônio da Vale. Se as ações da União na empresa (51%) forem de fato vendidas, Minas e os demais Estados que contribuíram para a formação de seu patrimônio devem ser compensados. Não só pela exaustão de seus recursos naturais não-renováveis como pelos incalculáveis e irrecuperáveis danos ambientais que a mineração provocou em seus territórios.
Do faturamento da Vale de 1942 a 1952, 100% foram provenientes de sua atuação em território mineiro. No ano passado, essa participação foi de 62,1%. Dentro de 30 anos, estarão exauridas as reservas economicamente viáveis de Minas Gerais. Ficaremos com os buracos que a Vale fez e o apito dos seus trens.
Não se discute a importância da Vale no desenvolvimento nacional e na geração de divisas, como maior exportadora nacional que é, ou na viabilização do parque siderúrgico nacional. Mas, se ela não o fizesse, outros o fariam. Com melhores ou piores resultados.
O grupo CVRD, que teve um faturamento bruto de US$ 6 bilhões no ano passado, deixou em tributos e contribuições, nos nove Estados onde atua, apenas US$ 127 milhões. E, do seu fundo de exaustão, só US$ 8 milhões para Minas. Ora, só a Fiat está recolhendo US$ 400 milhões por ano em ICMS para Minas.
O retorno sobre ativos da Vale é pouco mais que a metade do conseguido por suas concorrentes. Está perdendo competitividade e mercados, por sua condição de estatal que precisa de 76 dias para licitar uma compra ou concurso público para contratar executivos ou faxineiros. Não há redução de custo e melhora de qualidade em nenhum caso.
O gigante está doente. Não devemos matar a galinha dos ovos de ouro e de ferro, bauxita, cobre etc. Vamos ficar com os ovos, de cuja parte Minas não abre mão, assim como Pará, Maranhão, Espírito Santo, Bahia, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Tocantins, Sergipe e o Brasil.

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