São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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O Doutor Alkimar ainda não tem o que contar

ELIO GASPARI

No dia 31 de setembro passado, 72 horas antes do primeiro turno da eleição para prefeito de São Paulo, o Doutor Alkimar Moura, diretor do Banco Central, informou que estava investigando transações feitas pela Secretaria de Finanças com papéis do Tesouro Municipal.
Tratava-se de verificar se houvera irregularidade em algumas operações realizadas em dezembro de 1994 pelo então secretário Celso Pitta. Num mesmo dia ele vendera a uma corretora carioca um lote de papéis por R$ 51,7 milhões, recomprando-o horas depois por R$ 53,4 milhões. Diferença de R$ 1,7 milhão contra a bolsa da viúva.
O Banco Central não tem por norma informar ao público a identidade das instituições e pessoas que investiga, mas seu diretor de Norma, julgou conveniente avisar que a gestão de Pitta estava sob investigação. Isso no fragor da batalha eleitoral.
Passaram-se 45 dias, Pitta se elegeu e o Banco Central continua investigando uma operação que completará dois anos daqui a poucas semanas. O BC informa que não tem prazo para concluir seus trabalhos, nem novidades a anunciar a respeito do caso. Se o Doutor Alkimar não sabe quando termina o seu serviço, nem tem nada a dizer hoje, como é que o tinha na véspera do primeiro turno, em outubro?
Enquanto o Doutor Alkimar não pode dizer se as transações de Pitta estavam ou não nos conformes, ficam as seguintes hipoteses:
1) Em setembro ele transformou o Banco Central em cabo eleitoral da militância anti-Pitta. (E até hoje não lhe aconteceu nada.)
2) Ele não consegue fazer seu serviço. (E não lhe acontece nada.)
3) O prefeito eleito de São Paulo, quando secretário de Finanças, fez operações ruinosas para o Tesouro. (E os seus eleitores foram feitos de bobos.)
4) O prefeito de São Paulo foi injustamente colocado pelo Banco Central sob a suspeita de ter feito tenebrosas transações. (E quem acreditou no Doutor Alkimar foi bobo.)
Não custa ao Banco Central apurar o que pode e informar o que sabe, mesmo que não saiba nada.
Do contrário, continuam no ar a controvérsia e as propostas colocadas na mesa em março passado, quando o prefeito Paulo Maluf e o presidente do BC, Gustavo Loyola, mostraram que têm uma coisa em comum: ambos acham que o outro devia estar na cadeia.

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