São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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Mulher monopoliza cozinha

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Muitas mulheres estariam cumprindo "jornada dupla" -trabalhando dentro e fora de casa- porque se recusam a dividir o monopólio do lar com os homens.
"Há mulheres que não repassam suas funções domésticas para não perder o poder da casa", afirma o psicoterapeuta Paulo Silveira.
Os homens que arriscam trocar fraldas ou lavar os pratos e se atrapalham chegam a ser humilhados. "Sempre surge uma mulher para dizer que você não sabe fazer aquilo, como se apenas o sexo feminino tivesse aquelas habilidades."
Silveira vai mais longe. Afirma que, mesmo quando as tarefas são divididas, as mulheres deixam para os companheiros os trabalhos braçais e de menor importância.
Outras mulheres, diante do desafio e do estresse que significa a disputa no mercado de trabalho, optam por ficar em casa, observa a socióloga Sandra Ridenti, 32.
"Elas se protegem cuidando dos filhos. Em lugar de ensinar os homens, algumas agem como se apenas elas tivessem habilidade para isso. Há homens que gostariam de dividir as responsabilidades, mas encontram a resistência das mulheres." Sandra tem dois filhos e prepara uma tese sobre o tema "paternidade adulta".
Há estudos mostrando que os homens estão desejosos de mudança na divisão das tarefas domésticas. Um trabalho feito pelas sociólogas Ivete Ribeiro e Ana Clara Torres Ribeiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, aponta nessa direção.
A pesquisa foi feita pelo Gallup a pedido do Instituto João 23 e está no livro "Família e Desafios na Sociedade Brasileira".
"Trata-se de uma indicação de tendências, não significa que aconteça na realidade", diz Ivete. Pesquisas internacionais -segundo Silveira- mostram que o homem quer participar das tarefas domésticas, mas acaba dando mais trabalho do que ajudando.
Num esforço para se livrarem da pecha de machões e se mostrarem mais sensíveis, muitos homens passaram a copiar modelos femininos. Adotaram roupas coloridas e tomaram como padrão comportamentos da mulher. Não é por aí, dizem os especialistas. "Os homens devem encontrar uma sensibilidade própria", diz Cuschnir.
A mulher, por sua vez, "passou a adotar padrões masculinos para vencer no trabalho", diz Sandra. Em lugar da troca de padrões, com o risco de uma "guerra", o ideal seria o diálogo.
(AB)

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