São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
Próximo Texto | Índice

FHC E MALUF

Eleições municipais raramente geram efeitos sobre o quadro político nacional. No caso do pleito encerrado sexta-feira, essa regra tornou-se ainda mais forte, em função da extrema municipalização dos temas da campanha. Mas não vale para o caso da capital paulista. A vitória de Celso Pitta (PPB) fortaleceu inequivocamente o projeto de seu criador político, Paulo Maluf, de candidatar-se à Presidência da República em 1998.
Por isso, haverá consequências para a discussão da emenda constitucional que permite a reeleição. Maluf é um adversário declarado da reeleição, por simples cálculo eleitoral: sabe que é mais difícil enfrentar Fernando Henrique Cardoso do que qualquer outro nome a ser indicado pela atual coligação governante.
Mas o confronto entre Maluf e FHC tende a ser mais sutil do que aberto. Tanto o destino da emenda da reeleição como as chances eleitorais de FHC, se puder se candidatar de novo, dependem muito da situação econômica. Se a inflação permanecer baixa e não houver recessão, há boas chances de a emenda ser aprovada, e o atual presidente se reeleger.
Maluf sabe disso e, portanto, tenderá a fazer de sua oposição à reeleição uma forma de obrigar o governo a praticar um fisiologismo mais explícito, encarecendo assim o preço da aprovação da emenda. De toda forma, o resultado da eleição mudou o panorama sucessório. Até aqui, ante a crise de identidade da esquerda e a ampla coligação que apóia FHC, o presidente era o único candidato virtualmente em campanha, apesar de a reeleição ainda estar em discussão.
Agora, são em tese dois, na dependência, é claro, da evolução do quadro econômico, um fator político e eleitoral decisivo.
O pleito municipal mostrou também que a esquerda, não obstante sua crise de identidade, revelou paradoxalmente certa força eleitoral, a ponto de o PT ter sido o partido de maior número de votos nas cem cidades mais importantes do país.
Mas esse resultado, ao contrário do caso Maluf, não se traduz na definição de uma candidatura da esquerda para 98. Com um pré-candidato mais à direita (Maluf) e outro mais ao centro (FHC) praticamente lançados, fica aberta a vaga da esquerda.

Próximo Texto: O ELO PERDIDO
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.