São Paulo, domingo, 17 de novembro de 1996
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O ELO PERDIDO

A economia brasileira, apesar da estabilização, encontra-se ainda em processo de transição.
Uma dificuldade central é o déficit comercial. O controle que o governo hoje exerce sobre o câmbio, um dos fatores da estabilidade, depende da disponibilidade de reservas internacionais. Se houver saídas excessivas de recursos (para servir a dívida externa ou para comprar bens no exterior), as reservas servirão como uma "poupança" de emergência.
Mas, como acontece a qualquer um, quando é preciso lançar mão de reservas para pagar compromissos (dívidas ou um certo padrão de consumo), aumenta a insegurança.
Há duas alternativas para não perder reservas. A primeira, aliás a mais alardeada por autoridades do governo, é a entrada de mais recursos no país sob a forma de investimentos.
A outra opção, como em qualquer orçamento, seria alterar o padrão e a intensidade do consumo. Ou seja, seria frear a economia, reduzir a procura por importados, aumentar a disponibilidade de bens exportáveis e, ao longo do tempo, reduzir os custos de produção no Brasil.
Na prática, o governo hoje tenta equilibrar-se sobre um roteiro que combina as duas alternativas. De um lado, é cauteloso na redução dos juros, impedindo a decolagem da economia. De outro, anuncia sobretudo para o ano que vem uma ofensiva na área de privatização (telecomunicações, energia elétrica e Vale) que, de fato, poderá trazer ao país recursos externos suficientes talvez até para sustentar o déficit comercial sem perda de reservas internacionais.
Se não quiser mexer no câmbio, se levar em conta que o ajuste fiscal é lento, se reconhecer que a economia não pode ir à recessão ainda que o crescimento seja cuidadosamente monitorado e se não quiser perder reservas, o governo precisará da privatização em 97 para recuperar a credibilidade na estabilização.
A privatização torna-se portanto o elo perdido capaz de levar à evolução do Brasil de uma economia estável, mas contida, para um projeto real de desenvolvimento em novas bases.

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