São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 1996
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Itamar e Aureliano divulgam manifesto contra venda da Vale

Documentos da empresa serão abertos com restrições

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-presidente Itamar Franco, o presidente do PMDB, Paes de Andrade, e o ex-vice-presidente Aureliano Chaves lançaram anteontem um manifesto contra a privatização da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e do setor elétrico.
Embaixador do Brasil na OEA (Organização dos Estados Americanos), Itamar reuniu-se com Aureliano e representantes de entidades em Juiz de Fora (MG).
Itamar fez um apelo ao presidente Fernando Henrique Cardoso para que exclua a Vale do programa de privatização.
O ex-presidente quer contar, no movimento contra a privatização da CVRD e do setor elétrico, com o apoio da UNE (União Nacional dos Estudantes), ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Itamar também já conversou sobre o assunto com o presidente nacional do PT, José Dirceu.
O manifesto faz uma crítica do neoliberalismo e ataca a venda à iniciativa privada de usinas hidrelétricas já prontas, o que, segundo o texto, nada acrescentaria em novos investimentos ou empregos.
Banco de dados
O banco de dados com informações estratégicas da CVRD será aberto hoje com restrições, por decisão do juiz da 7ª Vara Federal de Brasília, Novély Vilanova Reis.
Em medida liminar concedida na última quinta-feira, Vilanova proibiu a divulgação do "data room" montado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) por conter "material confidencial, de uso exclusivo das autoridades".
A decisão de abrir aos interessados na privatização da Vale informações estratégicas foi do BNDES e contrariou a direção da estatal.
O presidente da empresa, Francisco José Schetino, contestou a decisão em 6 de novembro em carta ao presidente do BNDES, Luiz Carlos Mendonça de Barros.
Schetino considera a decisão nociva aos negócios da empresa. Ele teme que o vazamento das informações aos concorrentes seja prejudicial à Vale mesmo depois de sua privatização.
Para ele, os dados só deveriam ser liberados na fase decisiva da venda, após seleção prévia dos concorrentes ao leilão.
O BNDES justificou-se com a alegação de que foram criados mecanismos para garantir o sigilo das informações, como o pagamento de R$ 150 mil e a disponibilização de R$ 500 milhões pelos interessados em conhecê-las.
Schetino entendeu que, embora tecnicamente adequados, esses mecanismos não impedem o vazamento dos dados a terceiros.
O acesso aos dados pelas empresas interessadas em comprar a Vale faz parte das medidas adotadas em outubro pelo CND (Conselho Nacional de Desestatização) para viabilizar o negócio.
O raciocínio foi que o acesso às informações dá ao interessado visão global do potencial da empresa e aumenta seu atrativo.
A venda da Vale, que será feita em três etapas a serem iniciadas em fevereiro, deverá movimentar cerca de R$ 10 bilhões.
A ação cautelar que resultou na sentença de Vilanova foi impetrada pelo deputado Luiz Gushiken (PT-SP). O deputado disse que a sentença dá à Vale exclusividade para decidir o que pode ou não ser divulgado pelo BNDES.
Gushiken aguarda para esta semana a contestação à sentença judicial pelo BNDES e pelo governo federal. A Vale descobriu nos últimos meses duas grandes novas jazidas de ouro no Pará.

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