São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 1996
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Missão para universidade pública brasileira

HERNAN CHAIMOVICH

O crescimento populacional, a estabilização da moeda, uma melhoria da economia brasileira e um mercado aberto farão crescer a demanda por profissionais. No Brasil mais de 60% das vagas universitárias na graduação estão no sistema privado, enquanto o Estado atinge o limite superior de dispêndio em universidades públicas. A imensa maioria dos estabelecimentos privados de ensino de 3º grau é de baixa qualidade.
Esse quadro pode estar mudando, e parte pequena do sistema se prepara para ocupar terreno que parecia privativo às universidades públicas: a formação de profissionais de qualidade.
A universidade pública pode responder à demanda crescente por vagas renunciando a sua condição de universidade. Ao abandonar a pesquisa e dedicar-se exclusivamente ao ensino de graduação, transformar-se-ia em escola de 3º grau, conseguindo aumentar o número de estudantes.
Essa opção tem um preço, já que, essencialmente, toda a pesquisa básica e aplicada e a pós-graduação se realizam nas universidades públicas. Nem toda universidade pública pesquisa e cria, mas a transformação generalizada das universidades públicas em escolas de 3º grau é socialmente inaceitável, mas não impossível.
Muitas críticas às universidades públicas partem de fatos residentes no imaginário e nem sequer colocam problemas centrais, como o de aumentar a qualidade geral do ensino universitário brasileiro, privado e público, conservando pesquisa e pós-graduação. A universidade pública, por outro lado, se defende pontualmente, reconhece erros e não esclarece a sua missão.
E a universidade pública brasileira tem, sim, uma missão: o papel de elite intelectual. A universidade pública pode assumir um papel central, se formar os melhores profissionais e intelectuais brasileiros. A qualidade não impõe responsabilidade de crescer respondendo à demanda.
Uma missão desse tipo requer a produção da melhor ciência, a análise mais competente de conjuntura, uma inserção orgânica na sociedade brasileira a partir da sua qualidade. Assumir essa missão é se arriscar à pressão de cobrança legítima e consequente, somente possível quando a missão está estabelecida.
Sem espaço para mediocridade de professores, alunos e funcionários, a universidade pública poderá crescer em qualidade. Crescimento em qualidade homogeneíza critérios, "desisonomiza", premia competência e pode dar um ar mais leve às nossas vetustas, porém jovens, universidades brasileiras.
As universidades públicas brasileiras que aceitem a missão de elite intelectual na criação e na formação devem se inserir mais firmemente no Brasil. Sem aspirar, porém, a estar entre as melhores do país, num mundo globalizado, devem pretender, simplesmente, ser as melhores.

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