São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 1996
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Carpenter ataca o visível

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Na indústria cultural contemporânea, a idéia de "cineasta maldito" não é rara, mas está ligada, normalmente, a cuidadosas operações de marketing.
Carpenter faz parte de um restrito grupo a quem se pode qualificar de malditos na medida em que circulam numa esfera não industrial. Fazem cinema pela alegria do cinema, não para agradar.
Daí essas "Memórias" constituírem um objeto tão único. A história, em princípio, é banal: um homem comum, ou quase isso (Chevy Chase), torna-se invisível por conta de experiências científicas e passa a ser perseguido por um agente da CIA.
A invisibilidade atira-o em outra dimensão: em um mundo dominado pelo olhar (e pela hipótese de ser visto), tornar-se um homem invisível equivale a experimentar a imaterialidade das coisas.
Entramos, então, no território da aberração, ou da transgressão. Para ser (se preservar), será preciso que esse homem se afunde no não ser da invisibilidade. Para não sucumbir enquanto homem, será preciso optar por uma existência secreta.
Filme anti-social por excelência, esta comédia não hesita em assumir uma aparência quase irresponsável. É sua maneira de afirmar secretamente -de maneira quase invisível- sua consistente rejeição a um mundo de aparências triunfantes.
(IA)

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