São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 1996
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Para Fidel, visita do papa pode ajudar Cuba

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O presidente Fidel Castro disse acreditar que uma visita do papa a Cuba possa auxiliar no fim do embargo americano ao seu país.
Fidel participou ontem em Roma do último dia da conferência da FAO, agência da ONU para alimentação e agricultura.
Ele tem amanhã encontro marcado com o pontífice. É a primeira vez que um papa recebe Fidel desde que ele assumiu o poder (1959).
Disse que levará uma "mensagem de amizade" e não se "intrometerá" em assuntos teológicos.
Ele disse esperar que o papa sensibilize a opinião pública internacional contra o embargo dos EUA.
O presidente cubano qualificou o embargo de "tentativa de genocídio" e disse que, passadas as eleições americanas, o presidente Bill Clinton pode fazer algo para cumprir a declaração do encontro.
A Declaração de Roma, em alusão discreta ao embargo, diz que os signatários não devem "aplicar medidas unilaterais que não estejam em consonância com o direito internacional e com a Carta das Nações Unidas e que ponham em perigo a segurança alimentar".
Também diz que alimento "não deveria ser utilizado como instrumento de pressão política".
Adão e Eva
Apesar da expectativa de um encontro cordial entre Fidel e o papa, o líder cubano usou uma citação bíblica para defender a necessidade da adoção de programas de controle de natalidade.
"Não estamos vivendo no paraíso terreno onde, segundo a Bíblia, havia somente duas pessoas: Adão e Eva", disse.
Fidel afirmou não gostar do aborto, mas que a explosão demográfica no mundo exige o controle da natalidade.
"Na época de Marx e Engels, e não quero dar uma aula de marxismo, não se falava disso porque se pensava que os recursos naturais eram infinitos. Mas, infelizmente, não podemos mandar outro Cristovão Colombo à Lua ou a Marte para que descubra novas terras."
Protesto
Manifestantes interromperam entrevista coletiva do diretor-geral da FAO, o senegalês Jacques Diouf, qualificando a reunião de "farsa". A polícia retirou o grupo.
Diouf admitiu que são modestos os objetivos da declaração da conferência, na qual os 186 países participantes se comprometem a reduzir à metade até 2015 o número de pessoas que sofrem com a fome.
Estima-se que 840 milhões passem fome no mundo atualmente. O cumprimento dos termos não é obrigatório. Delegações de 15 países, incluindo os EUA, aprovaram o documento com observações.
Entre os termos contestados pelos EUA está "o direito de todos ao acesso a comida segura e nutritiva". O governo norte-americano teme processos de nações pobres em busca de ajuda ou condições comerciais especiais.

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