São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 1996
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NATAL SEM EUFORIA

O Natal deste ano será o terceiro sob o real. O mínimo que se pode dizer é que a incerteza sobre o desempenho da indústria e do varejo continua significativa. A rigor, o Natal de 94 foi o único sob o signo da euforia consumista. Comemoravam-se déficits comerciais, e o governo até antecipava a redução de tarifas de importação para dar vazão à procura por mercadorias animada pela recuperação do poder aquisitivo.
Logo depois, entretanto, veio a crise do México. E, com ela, uma opção do governo pela contenção da economia e das importações que, se não definiu outro modelo de estabilização, colocou a economia sob restrições que ainda estão aí.
Hoje há pelo menos três processos ocorrendo simultaneamente. Em primeiro lugar, o comportamento dos consumidores, depois da euforia, passou a depender acima de tudo das condições de crédito. E as redes varejistas, se naturalmente se tornaram cautelosas, ao mesmo tempo oferecem prazos cada vez maiores.
O resultado é que as margens se reduzem, assim como o giro, situação que exige redobrado cuidado gerencial, principalmente no manuseio dos estoques. Assim, as encomendas do comércio à indústria se tornam mais cautelosas, e o crescimento econômico continua moderado.
Mas também deve ser percebido outro movimento, de ordem tecnológica. A informatização do varejo e a expansão da logística nas cadeias industriais têm permitido a consolidação no país de modelos de produção enxuta. A implementação desse modelo também contribui para um cenário de estoques mais baixos.
O terceiro movimento em curso é de abertura econômica. Numa economia mais aberta, qualquer tendência de retomada do crescimento gera procura maior por importações.
Embora o governo tenha protegido alguns setores, como o automotivo ou o de brinquedos, em toda a indústria prosseguiu uma onda de substituição de máquinas, componentes e insumos nacionais por produtos estrangeiros. Isso também contribui para um desempenho moderado em termos de atividade econômica.
O ciclo de crédito, a racionalização no comércio e na indústria e o grau mais elevado de abertura econômica mudam radicalmente a forma e a intensidade como se propaga o crescimento econômico. Por enquanto, predomina a cautela.

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