São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 1996 |
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Soweto acalma a consciência dos turistas
RICHARD MEARES
Saídos de luxuosos resorts e parques antes reservados apenas aos brancos, eles se aventuram na populosa cidade negra para conhecer a "verdadeira" África do Sul e, talvez, acalmar suas consciências. "Vocês já podem abaixar as janelas, agora é seguro", afirma Abraham Mofokeng, brincando com as ansiedades de um ônibus cheio de turistas. "Chegamos a Soweto. Bem-vindos." Bem-vindos a um subúrbio com milhões de habitantes e uma taxa de criminalidade recorde. Bem-vindos também a um dos pólos turísticos que mais crescem na África do Sul: uma sequência de barracos, camelôs e lotações. Os clientes de Mofokeng são estrangeiros: holandeses, alemães, britânicos, australianos. Eles reagem indignados quando o guia lembra as leis do apartheid. Mas há uma nova espécie de turista. "Recebemos cada vez mais sul-africanos brancos", afirma Jimmy Ntintili, que dirige uma das várias companhias responsáveis pelos passeios em Soweto. A maioria desses brancos jamais teria a idéia dessa visita nos tempos do apartheid. Hoje, assassinatos, tiroteios, espancamentos e roubos os mantêm afastados. Apesar do buraco de bala na van de Mofokeng, ele diz que nunca teve problemas, que os visitantes estão seguros com ele. Todos a bordo O passeio começa num ponto de ônibus. Daí, seguimos rumo às casas dos pobres e dos ricos -barracos de aço enferrujado e mansões de "Beverly Hills". Mofokeng aponta para o local onde Winnie Mandela mora, atrás de muros altos e câmeras. Rua acima fica a casa do arcebispo Desmond Tutu, cercada por grades eletrificadas. As "mansões" são impressionantes, mas não podem ser comparadas às vilas dos subúrbios brancos de Johannesburgo, para os quais se mudou o ex-marido de Winnie, Nelson Mandela. As mudanças políticas ainda não são óbvias em Soweto, mas já podem ser vistas nos novos empreendimentos imobiliários. Por 100 rands (US$ 21), a excursão custa tanto quanto muitos sowetanos, que encontram trabalho, ganham em uma semana. Meia dúzia de operadores fazem o passeio. Alguns são empresários de Soweto que já se mudaram para "Beverly Hills". História Soweto -acrônimo de South-Western Townships- surgiu no início do século como acampamento para trabalhadores. Com a introdução do apartheid após a Segunda Guerra Mundial, Soweto abrigou os negros expulsos de Johannesburgo. Os turistas -a maioria brancos, mas também alguns negros norte-americanos- vão embora impressionados com o bom humor e a cordialidade dos moradores. "Nós não estamos aqui para mostrar-lhes pobreza -eu vi pobreza pior no Brasil-, mas apenas para mostrar como a outra metade vive", diz Ntintili. Os mais aventureiros podem beber e dançar toda a noite pela Soweto noturna ou até passar a noite em algum dos "bed & breakfast". Thoke Dube disse que, ao abrir sua casa, mostra a experiência de vida de Soweto. "Isso ofendia a comunidade", diz. "Agora os turistas são vistos como amigos." Texto Anterior: Evento em Miami deve atrair 10 mil gays Próximo Texto: Maceió Fest espera atrair 15 mil turistas Índice |
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