São Paulo, quinta-feira, 21 de novembro de 1996
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Juiz condena 8 policiais e ex-informante

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

A 23ª Vara Criminal condenou dois delegados, dois investigadores, três agentes policiais e um escrivão sob a acusação de eles terem se apropriado de uma carga roubada de cristais. As penas variam de seis a 12 anos de prisão. Todos eles alegam inocência.
Esta é a primeira condenação judicial com base nas denúncias feitas pelo ex-informante policial José Gonzaga Moreira, o Zezinho do Ouro. Ele, que é réu confesso, também foi condenado, mas recebeu a menor pena: quatro anos.
Os advogados dos acusados irão recorrer da sentença de 192 páginas do juiz Airton Vieira. "Vou sustentar a inocência do meu cliente certo de que o tribunal irá reformar essa sentença", disse o advogado Paulo José da Costa.
Seu cliente neste caso é o delegado Eduardo Antônio Gobbetti. Ele foi condenado a 12 anos de prisão. O advogado disse que não tinha ainda conhecimento da sentença.
Gobbetti e os demais acusados deverão cumprir a pena em regime fechado e sem o direito de apelar em liberdade. O juiz também determinou que todos perderão seus cargos na Polícia Civil.
O advogado Dirceu Grohmann, 48, também afirmou que irá recorrer da decisão da 23ª Vara Criminal. "Meu cliente é inocente e, além disso, não existem provas suficientes que respaldem a condenação", disse Grohmann.
Ele defende o investigador Gilberto Xavier de Brito, que foi condenado a dez anos de prisão. "O juiz do caso mostrou-me a sentença. Fiquei surpreso."
O outro delegado acusado é Ailton Antônio Bicudo. A sentença o condenou a oito anos de prisão.
Os demais policiais acusados foram condenados a seis anos.
São eles: o investigador Arlindo Brunetti Junior, o escrivão Agnus Dei Sabino Leonardo e os agentes policiais Marco Antônio do Espírito Santo, José Tadeu Camolez e Flávio de Oliveira Ferreira.
Cristais
Segundo a denúncia do Ministério Público, Zezinho do Ouro recebeu em fevereiro de 1994 uma informação sobre a localização de uma carga roubada. Ele teria levado os policiais ao local, um depósito na zona leste de São Paulo.
A carga teria sido apreendida pelos policiais, que, na época, estavam no 9º DP, no Carandiru (zona norte). Os acusados teriam se apropriado da carga e libertado o dono do depósito sem que fosse instaurado inquérito.
Após a denúncia de Zezinho do Ouro, a Corregedoria do Departamento de Inquéritos Policiais do Tribunal de Justiça mandou o 9º DP abrir inquérito sobre o roubo da carga. O dono dos cristais foi encontrado e confirmou o roubo.
Os acusados tiveram a prisão decretada pelo juiz no início deste ano durante a última audiência do processo. Todos os policiais estavam aguardando a sentença judicial detidos no Presídio Especial da Polícia Civil.
"Meu cliente (o investigador Brito) está confiante na Justiça e reafirma que não praticou nenhum crime", disse o advogado Grohmann. De acordo com ele, Brito já foi absolvido em dois outros processos em que era acusado por Zezinho do Ouro.
O ex-informante está detido no quartel do Regimento de Cavalaria 9 de Julho da PM. Isso porque a Justiça entendeu que ele correria risco de vida se ficasse em contato com presos comuns.
Denúncias
Zezinho do Ouro começou a fazer sua denúncias de corrupção policial em abril de 1994. Em setembro, essas acusações se tornaram públicas, e cerca de 40 policiais civis foram afastados.
Dois terços das denúncias de Zezinho foram arquivadas. As outras (cerca de 20) tornaram-se processos.

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