São Paulo, domingo, 24 de novembro de 1996
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Covas gasta em publicidade para mudar imagem

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Preocupado com os baixos índices de aprovação ao seu governo e com a imagem de político inoperante, o governador Mário Covas rendeu-se aos efeitos da publicidade. Até o final do ano, vai investir pesado para mudar esse quadro.
A campanha, que deve ir ao ar em horário nobre de TV, deve gastar em torno de R$ 5 milhões, segundo informação do próprio governo. Há versões que falam em gastos superiores. Terá inserções ainda em jornais, revistas e rádio.
Oficialmente, a campanha será feita por um consórcio formado pelas agências DPZ e Adag.
Curiosamente, a campanha está sendo criada e produzida pela GW Comunicação, a produtora responsável pela campanha de Covas em 94.
Caberá à DPZ/Adag apenas a operacionalização da campanha. Como ganharam a concorrência para administrar a conta publicitária do governo paulista, as agências vão se encarregar de sua veiculação na mídia.
A Folha apurou que a contratação da GW pelo consórcio DPZ/Adag foi exigência do Palácio dos Bandeirantes. Amigo de Covas, o jornalista Oswaldo Martins é o coordenador da campanha.
Martins também trabalhou na campanha de Covas para governador. Responde hoje por uma espécie de assessoria informal do governo na área de comunicação. Oficialmente, não recebe salário.
O governo de Covas não tem um bom desempenho nas pesquisas. O Datafolha divulgou no início deste ano que ele era o 10º colocado entre 12 governadores avaliados. Tinha 40% de regular, 37% de bom e ótimo, e 20% de ruim e péssimo.
Políticos do próprio PSDB acreditam que a imagem de Covas junto à opinião pública tem piorado. A última campanha para a Prefeitura de São Paulo piorou a situação -o imobilismo de Covas foi alvo preferido de seus adversários.
A Folha apurou que as próprias pesquisas feitas sob encomenda do Palácio dos Bandeirantes constatam esse quadro. Ele é avaliado como íntegro, mas inoperante como administrador. Aparece ainda como um político vacilante, que foge à sua responsabilidade em momentos importantes.
Para seus assessores, a imagem negativa de Covas é agravada pelo estigma que os políticos tucanos carregam -a de estarem sempre em cima do muro. Covas é contra a reeleição, mas há informações de que ele se candidata a um novo mandato, caso ela seja aprovada.
O governador sempre foi arredio ao ao uso da publicidade. Quando foi prefeito de São Paulo (1983-1985), recusou-se terminantemente a usar esse tipo de recurso. Mas, agora, mudou de idéia.
Verba publicitária
O governo Covas destinou R$ 20,6 milhões para gastos publicitários neste ano. Deste total, R$ 10 milhões destinam-se à publicidade com o programa de desestatização do governo. A campanha, porém, ainda não foi ao ar.
Os outros R$ 10,6 milhões são para propaganda direta do governo. A verba está vinculada à Secretaria de Governo e Gestão Estratégica, dirigida por Antônio Angarita. Esta conta está sendo administrada pelo consórcio DPZ/Adag.
Segundo Maria Helena Berlinck, chefe de gabinete de Angarita, em torno de R$ 2,3 milhões já foram gastos com a campanha de rodízio de automóveis.
A campanha de combate à febre aftosa consumiu mais R$ 1 milhão.
Outros R$ 4 milhões, segundo as contas de Berlinck, foram gastos com editais e outros anúncios institucionais do governo. "Sobraram apenas R$ 3 milhões para a nova campanha", diz.
Mas, segundo Berlinck, o governo deve autorizar aditamento de 25% sobre os R$ 10,6 milhões previstos inicialmente. Com isso, os gastos da nova campanha devem ficar em torno de R$ 5 milhões.
Não se trata de um gasto exorbitante com publicidade. O prefeito paulistano Paulo Maluf, por exemplo, gastou R$ 32 milhões no ano passado para promover seu governo. Nos seis primeiros meses deste ano, gastou R$ 20,2 milhões.
Orestes Quércia e Luiz Antonio Fleury Filho, antecessores de Covas, também foram generosos com suas verbas publicitárias. Em 92, último ano de Luiza Erundina (PT) na Prefeitura de São Paulo, foram gastos R$ 9,6 milhões.
No orçamento de seu governo para 97, Covas destinou R$ 21 milhões para gastos publicitários. Mas o Palácio dos Bandeirantes garante que a campanha do governo terá caráter institucional e de serviços, sem fazer promoção pessoal do governador.

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